São Paulo, terça, 12 de maio de 1998

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CRÉDITO SEM INFLAÇÃO

Medida tomada na semana passada pelo Conselho Monetário Nacional tende a aumentar a oferta de crédito e a facilitar a obtenção de caixa por bancos que queiram vender parte de suas carteiras de crédito -seus empréstimos. Talvez também possa vir a ajudar o Banco Central a se desfazer dos ditos "créditos podres" absorvidos com o Proer.
O empréstimo feito por um banco é tradicionalmente cobrado pelo próprio banco que o ofereceu. A medida do BC estipula regras para a criação de um mercado no qual os bancos poderão vender títulos que dão direito a receber os créditos que representam. Repassam a terceiros, de modo definitivo, o ônus da cobrança.
A longo prazo, o impacto dessa medida pode ser significativo. Ela abre uma nova fonte de liquidez para os bancos -que podem assim oferecer mais empréstimos. Adicionalmente, aproveita-se de modo mais refinado um instrumento de controle do BC sobre a oferta de crédito na economia. Nos Estados Unidos, onde tais operações são muito difundidas, o mercado de dívidas a receber associadas só a hipotecas equivale a mais de um terço do PIB.
A decisão de tomar agora essa medida também parece relacionada a circunstâncias mais específicas. Transferir a terceiros os créditos que são difíceis de receber pode ser um alívio para bancos que registram altos níveis de inadimplência.
O próprio BC, que absorveu bilhões em créditos problemáticos do Econômico, do Nacional e do Bamerindus, poderá revendê-los, em vez de tentar cobrá-los diretamente de milhares de devedores.
Mas convém estar atento para que o governo, na ânsia de dar liquidez a seus próprios ativos podres, não abuse do artifício que consiste em jogar essas dívidas sobre os fundos de pensão das estatais.
Até certo ponto, pode ser uma forma inteligente de estimular a consolidação do mercado de recebíveis. Para uma economia que cresce pouco, entretanto, toda forma não-inflacionária de ampliar a oferta de crédito é, em princípio, bem-vinda.



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