São Paulo, terça, 12 de maio de 1998

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De pais e de órfãos

CLÓVIS ROSSI

Assunção - Seria preciso uma fé cega para confundir o general Lino César Oviedo com um anjo. Mas foi um pouco por imaginá-lo como tal que a maioria dos paraguaios o elegeu domingo, pela interposta pessoa de Raúl Cubas Grau.
Cubas só foi o candidato porque Oviedo ficou inabilitado juridicamente, ao ter uma condenação a dez anos de prisão, por um tribunal militar, ratificada pela Suprema Corte.
Mas o voto foi em Oviedo, que vendeu a imagem de anjo vingador dos pobres, que, se eleito, lhes permitiria tomar "terere" (mate com água fria) nas louças da burguesia, que, aqui como no Brasil, guarda uma obscena distância com a massa de pobres.
A história da América Latina é um pouco o eterno "replay" dessa busca de um "paizão", capaz de resolver magicamente todos os problemas. De Getúlio Vargas, no Brasil, o "pai dos pobres", a Perón, na Argentina, passando por uma penca de caudilhos populistas, repete-se, uma e outra vez, a delegação das massas à espada mágica de um líder que as seduza.
Parece até não importar que uma frustração se siga a outra, a mais outra, a outra mais. A busca recomeça sempre.
O caso paraguaio é apenas paroxístico. Os colorados trocaram de candidato 23 dias antes do pleito e, não obstante, deram um banho em uma oposição unida, que, ademais, tinha maldisfarçadas simpatias no jornalismo, no empresariado, na elite intelectual, até no sindicalismo.
Ganharam tudo, da Presidência aos governos estaduais, passando pelas duas Casas do Congresso.
Está longe de ser um caso isolado. Não é mais ou menos isso que faz Antonio Carlos Magalhães, o "paizão" da Bahia?
O diabo é que a quantidade de órfãos desses pais da pátria só faz crescer, crescer, crescer.
E ainda tem gente que se espanta ou se choca com os MSTs, os zapatistas e por aí vai.



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