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São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003

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RADICALIZAÇÃO À VISTA

Como se leis existissem para serem ignoradas, as invasões de terra seguem celeremente no país. Em 160 dias de governo Luiz Inácio Lula da Silva, elas já superam o número registrado no ano passado. Reações armadas de fazendeiros, também ilegais, ocasionam mortes e alimentam o ciclo vicioso da violência. O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, que representa o governo nas negociações de conflitos, afirma nunca ter presenciado "um clima de tensão como o atual". Ele ocupa o cargo desde 1999.
A direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) justifica as ações acusando o governo de retardar o ritmo dos assentamentos. Segundo o MST, contribuiria também para o aumento das invasões "uma demanda reprimida" por parte dos trabalhadores sem-terra, que depositaram suas esperanças em Lula.
De fato, a longa proximidade entre o PT e o MST alimentava expectativas de que o novo governo teria melhores condições de conduzir a reforma agrária, evitando turbulências indesejáveis. O próprio presidente, quando candidato, acenou diversas vezes com essa perspectiva.
Como ocorre, contudo, em outras áreas, também na questão agrária a realidade vai apresentando dificuldades que não estavam no programa. O MST mostra-se decidido a retomar as pressões, e o governo hesita, claudicando na aplicação da medida provisória 2.183, editada em 2000, que proíbe por dois anos vistorias para fim de desapropriação em terras invadidas além de excluir os invasores do programa de reforma agrária.
Vão-se acumulando, portanto, as condições para o recrudescimento de um processo de radicalização no campo. As consequências de uma escalada de confrontos podem ser terríveis, como testemunham diversos episódios do passado.


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