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RADICALIZAÇÃO À VISTA
Como se leis existissem para serem ignoradas, as invasões de
terra seguem celeremente no país.
Em 160 dias de governo Luiz Inácio
Lula da Silva, elas já superam o número registrado no ano passado.
Reações armadas de fazendeiros,
também ilegais, ocasionam mortes e
alimentam o ciclo vicioso da violência. O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, que representa o governo nas negociações de
conflitos, afirma nunca ter presenciado "um clima de tensão como o
atual". Ele ocupa o cargo desde 1999.
A direção nacional do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) justifica as ações acusando o
governo de retardar o ritmo dos assentamentos. Segundo o MST, contribuiria também para o aumento
das invasões "uma demanda reprimida" por parte dos trabalhadores
sem-terra, que depositaram suas esperanças em Lula.
De fato, a longa proximidade entre
o PT e o MST alimentava expectativas
de que o novo governo teria melhores condições de conduzir a reforma
agrária, evitando turbulências indesejáveis. O próprio presidente, quando candidato, acenou diversas vezes
com essa perspectiva.
Como ocorre, contudo, em outras
áreas, também na questão agrária a
realidade vai apresentando dificuldades que não estavam no programa. O
MST mostra-se decidido a retomar
as pressões, e o governo hesita, claudicando na aplicação da medida provisória 2.183, editada em 2000, que
proíbe por dois anos vistorias para
fim de desapropriação em terras invadidas além de excluir os invasores
do programa de reforma agrária.
Vão-se acumulando, portanto, as
condições para o recrudescimento
de um processo de radicalização no
campo. As consequências de uma
escalada de confrontos podem ser
terríveis, como testemunham diversos episódios do passado.
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