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São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Rifando princípios

SÃO PAULO - Está bem, só por amor ao raciocínio, digamos que:
1 - Não havia mesmo nenhuma outra hipótese de política macroeconômica que não fosse o brutal aperto fiscal e monetário imposto pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
2 - Não houve jamais, na história do planeta, reformas tão bem boladas e tão indispensáveis como a previdenciária e a tributária propostas pelo governo do PT.
3 - Os mal chamados radicais são radicais mesmo e, ainda por cima, uns chatos.
4 - Seis meses é pouco tempo para fazer alguma coisa, qualquer coisa.
5 - O "espetáculo do crescimento" prometido pelo presidente está prestes a começar.
6 - As políticas sociais são precárias, mas, enfim, o que esperar em apenas seis meses de um partido que pouco falava do social?
Aceitas todas essas premissas, o governo Lula está, então, absolvido? Nem assim, desgraçadamente.
Não há desculpas ou tolerância alguma para o comportamento do governo e do partido na tentativa de abafar a CPI do Banestado, que deveria esclarecer a fuga do país da formidável pilha de US$ 30 bilhões nos anos 90.
Não dá para buscar amparo para justificar o não-feito ou o malfeito na herança, "maldita" ou não. Ética é ética, na oposição como no governo. Independe de época e de interesses políticos.
O argumento de que CPIs atrapalham as reformas é a cópia fiel das teorias do tucanato -as mesmas que o PT execrava (com razão, aliás).
Tomando um contêiner de boa vontade, podem-se engolir todas as premissas listadas no início e até mais algumas. Pode-se aceitar que um governo, qualquer governo, leve seis meses para começar a governar.
Só não se pode aceitar que rife princípios e vire o que sempre se recusou a ser: farinha do mesmo saco.


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