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CLÓVIS ROSSI
Rifando princípios
SÃO PAULO - Está bem, só por amor ao raciocínio, digamos que:
1 - Não havia mesmo nenhuma outra hipótese de política macroeconômica que não fosse o brutal aperto
fiscal e monetário imposto pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
2 - Não houve jamais, na história
do planeta, reformas tão bem boladas e tão indispensáveis como a previdenciária e a tributária propostas
pelo governo do PT.
3 - Os mal chamados radicais são
radicais mesmo e, ainda por cima,
uns chatos.
4 - Seis meses é pouco tempo para
fazer alguma coisa, qualquer coisa.
5 - O "espetáculo do crescimento"
prometido pelo presidente está prestes a começar.
6 - As políticas sociais são precárias,
mas, enfim, o que esperar em apenas
seis meses de um partido que pouco
falava do social?
Aceitas todas essas premissas, o governo Lula está, então, absolvido?
Nem assim, desgraçadamente.
Não há desculpas ou tolerância alguma para o comportamento do governo e do partido na tentativa de
abafar a CPI do Banestado, que deveria esclarecer a fuga do país da formidável pilha de US$ 30 bilhões nos
anos 90.
Não dá para buscar amparo para
justificar o não-feito ou o malfeito na
herança, "maldita" ou não. Ética é
ética, na oposição como no governo.
Independe de época e de interesses
políticos.
O argumento de que CPIs atrapalham as reformas é a cópia fiel das
teorias do tucanato -as mesmas que
o PT execrava (com razão, aliás).
Tomando um contêiner de boa
vontade, podem-se engolir todas as
premissas listadas no início e até
mais algumas. Pode-se aceitar que
um governo, qualquer governo, leve
seis meses para começar a governar.
Só não se pode aceitar que rife princípios e vire o que sempre se recusou a
ser: farinha do mesmo saco.
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