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CARLOS HEITOR CONY
A grande noite
RIO DE JANEIRO - Deus é testemunha de que nunca duvidei de sua sabedoria e bondade. Mas sempre embirro com um dos argumentos dados
por são Tomás de Aquino para provar a sua sabedoria e bondade. Com
a autoridade de doutor máximo na
matéria, ele dá o exemplo das raposas, que têm no rabo um chumaço de
pêlos brancos.
O Criador de Todas as Coisas assim
as fez, com parte do rabo branco, para facilitar o alvo dos caçadores. Por
isso, talvez, chamamos de "alvo"
aquilo que desejamos atingir, sendo
que, em espanhol, se diz mesmo
"blanco" para designar a mesmíssima coisa.
Tudo bem. É realmente uma grande prova da sabedoria e da bondade
do Criador, mas gostaria de saber a
opinião das raposas, que também são
criaturas de Deus, sobre a generosa
manifestação de sabedoria e bondade do Todo-Poderoso.
Longe de mim levantar qualquer
dúvida sobre o assunto. Faltam-me
conhecimento técnico e vontade pessoal para tal tipo de discussão. Mas
que embirro com o doutor Angélico
embirro. Prefiro o doutor Evangélico,
que, nada mais nada menos, é o nosso doméstico, o nosso cotidiano santo
Antônio, cuja festa se comemora
amanhã.
O grande milagreiro, que nos ajuda
a achar chaves e documentos perdidos, é também doutor da igreja. Seus
conhecimentos dos textos bíblicos
eram notáveis, seus sermões, impressionantes.
Tão impressionantes que, chegando certa vez a Rimini, na costa adriática, encontrou rejeição da população local, que não quis ouvir sua pregação. Antônio não se afobou. Foi
para a praia e começou a pregar para
os peixes. Diz a lenda que foi ouvido.
Milhares de peixes vieram à superfície e, se não aplaudiram o sermão, na
certa aprenderam alguma coisa a
mais do que os homens.
Nos anos mais antigos do passado,
na festa de santo Antônio, o pai fazia
e soltava balões. Era a noite grande
de minha infância. E continua para
mim sendo uma grande noite.
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