|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Muda a gestão, fica a lógica
SÃO PAULO - Por mais que se levantem senões à comparação entre os ganhos auferidos por aplicações financeiras e investimentos produtivos no
Brasil, não há como escapar à conclusão de que a economia brasileira,
em detrimento do crescimento, vem
patrocinando nos últimos tempos um
verdadeiro espetáculo das finanças.
Como mostrou a Folha na edição de
ontem, uma aplicação conservadora
rendeu, de nove anos para cá, quatro
vezes mais do que o investimento
produtivo.
Vivemos numa espécie de república
de rentistas, na qual todos os que podem, das classes médias às elites, alimentam uma gigantesca engrenagem financeira que tem no Estado
seu principal motor. O monstruoso
endividamento público gerado ao
longo do governo Fernando Henrique Cardoso merece com sobras o
epíteto de "herança maldita" ao ter-se transformado num limitador persistente e fundamental do crescimento econômico. E não é de estranhar
que, nessa lógica de topar tudo por
dinheiro para financiar a dívida, se
tenha chegado a uma situação na
qual capitais financeiros e investimentos produtivos são tratados de
maneira assimétrica, com sintomática vantagem para os primeiros.
A facilidade com que investidores
entram e saem do Brasil, em prazos
muitas vezes extremamente curtos,
para obter vantagens com juros ou
câmbio, contrasta com as incertezas e
os custos impostos ao capital produtivo. Em determinadas circunstâncias,
esses fluxos voláteis e especulativos
podem se constituir em fator de instabilidade, alimentando crises cambiais que acabam, como já se viu no
passado, por abortar movimentos de
crescimento da economia.
Apesar disso, tornou-se uma espécie de tabu, no debate nacional, a discussão sobre medidas capazes de melhor controlar esse vaivém especulativo. Muda a gestão, mas não muda a
lógica, num governo que se autoproclamou portador de mudanças, mas
que, de novo mesmo, está para nos
apresentar em breve seu belo avião.
Texto Anterior: Editoriais: IBIRAPUERA POLUÍDO Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: País sem jeito Índice
|