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CARLOS HEITOR CONY
O leão e o porco
RIO DE JANEIRO - Um sujeito desinformado perguntou-me o que eu
achava pior: inflação alta ou juros altos? Ia responder que os dois são péssimos, ou tiraria "cara ou coroa" na
hora, escolhendo a inflação ou os juros aleatoriamente.
Esclareci que era a última pessoa
do mundo a ter uma resposta, nada
entendo de economia. E, embora nada entendesse de animais, respondi à
pergunta dele com outra: o que é
pior, ser focinho de porco ou rabo de
leão? Pessoalmente, não queria ser
rabo de leão nem focinho de porco.
Passando para os átrios sombrios
da economia, não gosto dos juros altos nem da inflação, que gerou uma
bela imagem poética: "espiral". Adoro a expressão "espiral inflacionária". Eu nem sabia o que era espiral,
mas já gostava da palavra.
Voltando à pergunta que me fizeram. A inflação é um mal, mas a genialidade nativa criou um jeito de
suavizá-la com o gatilho salarial.
Tecnicamente era uma porcaria, só
aumentava a inflação, mas, no dia-a-dia que interessa, aliviava o sofrimento e o bolso. O custo de vida aumentava 60% ao mês, os salários aumentavam alguma coisa perto dos
60%. A mágica era besta, mas que
besteira boa. Transferíamos a inflação zero para as gerações futuras, para os netos dos nossos netos, eles que
se virassem.
Os juros não têm gatilho, nada que
se pareça com um quebra-galho circunstancial ou permanente. Paga-se
e bufa-se. Estão embutidos no pão
que se come, no sabonete que nos lava, na luz que nos ilumina.
Atinge pobres e ricos. Os remediados (nome estranho: remediado parece que é quem vive cheio de remédios), os remediados, além de pagarem tudo com juros, tal como os pobres, de vez em quando enfrentam a
Receita Federal, o ISS, a Cofins, o diabo, pagando os tubos se atrasam um
dia. Daí que não é boa coisa ser rabo
de leão ou focinho de porco.
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