|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Uma pobreza só
SÃO PAULO - Impossível discordar do deputado Fernando Gabeira (ex-PT, sempre RJ) quando diz que o governo Luiz Inácio Lula da Silva "reduziu as expectativas de milhares de
pessoas de um processo histórico maravilhoso a uma visão medíocre de
governabilidade".
Os exemplos são incontáveis, mas
fico, hoje, no território (a política externa) que era, até muito recentemente, o único em que o governo Lula chegava perto do aplauso unânime. Só nas últimas semanas o aplauso diminuiu ao ressurgir, em setores
da opinião pública e do próprio governo, o colonizado espírito de que "o
que é bom para os Estados Unidos é
bom para o Brasil", conforme frase
de Juracy Magalhães.
Mesmo assim, a política externa
ainda é a menos contestada.
Mas "nada é tão interno quanto a
política externa", como diz feliz título
de Luiz Olavo Baptista, especialista
em comércio exterior do Gacint
(Grupo de Acompanhamento da
Conjuntura Internacional, da USP),
para o mais recente número do boletim do grupo.
A "visão medíocre de governabilidade" apontada por Gabeira cortou
as verbas também do Itamaraty, o
que faz com que alguns executores da
política externa estejam acossados
por credores cobrando faturas por
gastos realizados justamente para fazer política externa.
Quem é que consegue ser altivo em
negociações internacionais, que são
hoje o cerne da política externa, se
tem alguém à porta acusando-o de
caloteiro -e, pior, com razão?
Ou, posto de outra forma: o empenho interno em não gastar para assegurar "medíocre governabilidade"
mina também a política externa.
Ainda mais quando se sabe que,
tanto quanto a segurança pública, a
educação etc, também o Itamaraty
precisa ampliar seus quadros e, portanto, seus gastos. Basta saber que o
Brasil tem 1.100 diplomatas. O México, único país latino-americano com
economia equiparável à do Brasil,
tem quase o triplo (2.900).
Volto a Gabeira ao definir o governo: "É pobreza só, pobreza".
Texto Anterior: Editoriais: DIAGNÓSTICO DIFÍCIL Próximo Texto: Bueno Aires - Eliane Cantanhêde: Dissenso e consenso Índice
|