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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Uma pobreza só

SÃO PAULO - Impossível discordar do deputado Fernando Gabeira (ex-PT, sempre RJ) quando diz que o governo Luiz Inácio Lula da Silva "reduziu as expectativas de milhares de pessoas de um processo histórico maravilhoso a uma visão medíocre de governabilidade".
Os exemplos são incontáveis, mas fico, hoje, no território (a política externa) que era, até muito recentemente, o único em que o governo Lula chegava perto do aplauso unânime. Só nas últimas semanas o aplauso diminuiu ao ressurgir, em setores da opinião pública e do próprio governo, o colonizado espírito de que "o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil", conforme frase de Juracy Magalhães.
Mesmo assim, a política externa ainda é a menos contestada.
Mas "nada é tão interno quanto a política externa", como diz feliz título de Luiz Olavo Baptista, especialista em comércio exterior do Gacint (Grupo de Acompanhamento da Conjuntura Internacional, da USP), para o mais recente número do boletim do grupo.
A "visão medíocre de governabilidade" apontada por Gabeira cortou as verbas também do Itamaraty, o que faz com que alguns executores da política externa estejam acossados por credores cobrando faturas por gastos realizados justamente para fazer política externa.
Quem é que consegue ser altivo em negociações internacionais, que são hoje o cerne da política externa, se tem alguém à porta acusando-o de caloteiro -e, pior, com razão?
Ou, posto de outra forma: o empenho interno em não gastar para assegurar "medíocre governabilidade" mina também a política externa.
Ainda mais quando se sabe que, tanto quanto a segurança pública, a educação etc, também o Itamaraty precisa ampliar seus quadros e, portanto, seus gastos. Basta saber que o Brasil tem 1.100 diplomatas. O México, único país latino-americano com economia equiparável à do Brasil, tem quase o triplo (2.900).
Volto a Gabeira ao definir o governo: "É pobreza só, pobreza".



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