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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Dissenso e consenso

BUENOS AIRES - Lula tem popularidade e precisava de credibilidade, precisava mostrar que é capaz de governar avançando à esquerda, mas sem fazer uma revolução.
Kirchner, ao contrário, não tinha popularidade (foi eleito com 22% dos votos!) nem credibilidade. Tinha de mostrar capacidade, controle político, empatia com os "súditos".
O Brasil tem lá seus problemas, e o maior deles são os bolsões de miséria. Mas tem economia forte, planta industrial variada, parceiros internacionais poderosos e um mercado potencial dos maiores do mundo. E saiu de oito anos de Fernando Henrique Cardoso, que não é qualquer um.
Já a Argentina está atolada em problemas sociais, políticos e econômicos. Instituições desacreditadas, desemprego assustador, falta de investidores externos, dívida impagável. As feridas das "relações carnais" com os EUA continuam expostas. E saiu de 12 anos de Carlos Menem, que dispensa classificações.
Mas Brasil e Argentina têm também muito em comum. São os principais parceiros do Mercosul em todos os sentidos e têm novos presidentes ávidos por assumir liderança e marca de independência, seja diante dos EUA, seja diante do mundo inteiro.
Lula não foi solidário quando Kirchner ameaçou dar calote no FMI? Não, não foi. Kirchner riu por último com um bom acordo (apesar de temporário)? Riu sim. Agora passou. Quando os dois se encontrarem, se abraçarem e se deixarem fotografar nesta semana, em Buenos Aires e na Patagônia, as diferenças serão grandes, e as comparações, desconfortáveis. Mas, depois do neoliberalismo e da alternativa frustrada da Venezuela, o rasgo de esperança são Brasil e Argentina, Lula e Kirchner.
O G20 -ou "G-X", como diz Celso Amorim- e o "Consenso de Buenos Aires", declaração que Lula e Kirchner devem assinar, parecem iniciativas quase juvenis. Contrapor-se ao "Consenso de Washington" com superávit fiscal de 4,75% do PIB?!
Mas é torcer ou torcer, mesmo porque nada melhor tem surgido por aí.



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