São Paulo, terça-feira, 12 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PRESSÃO DA ONU

Depois de semanas de intensa negociação diplomática, o Conselho de Segurança (CS) da ONU finalmente aprovou uma resolução para tentar desarmar o ditador iraquiano Saddam Hussein. O texto sancionado é propositadamente ambíguo. Enquanto países contrários a uma ação militar, entre os quais se destacam França e Rússia, entendem que uma eventual guerra contra o Iraque depende de novos debates no CS, os EUA julgam que a resolução já os autoriza a atacar, caso Bagdá não cumpra com todas as exigências relativas às inspeções de armas.
A recomendação anunciada ontem por um comitê do Parlamento iraquiano para que a resolução seja rejeitada não deve ser levada muito a sério. O próprio comitê afirma que o Conselho do Comando Revolucionário -isto é, Saddam Hussein- é que deve tomar a decisão adequada para "defender o povo do Iraque, sua independência e dignidade". Pelo histórico de Saddam Hussein, ele deverá tentar ganhar tempo, emitindo toda sorte de sinais contraditórios, mas dificilmente fará um gesto que torne a guerra inevitável.
No fundo, o que houve foi um recuo parcial das nações contrárias à intervenção militar no Iraque. Embora França, Rússia e outros países temam as consequências políticas e econômicas de um ataque, não estão evidentemente dispostas a ir às últimas consequências para salvar Saddam Hussein. Indispor-se com os EUA, por exemplo, já seria um preço elevado demais, sobretudo agora que o presidente George W. Bush sai bastante revigorado das eleições, tendo readquirido controle sobre as duas casas do Congresso.
A situação agora é semelhante à que vigia oito semanas atrás, quando o CS deu início aos debates da resolução contra o Iraque: os EUA seguem afirmando que vão atacar, mesmo que unilateralmente, se julgarem necessário. É bom que Bush tenha se dado ao trabalho de obter algum tipo de aval da ONU para agir no Iraque, mas ainda é cedo para afirmar que os organismos multilaterais tenham saído fortalecidos.


Texto Anterior: Editoriais: SEMANA DE FMI
Próximo Texto: Editoriais: COMBATE À POBREZA

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.