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FERNANDO RODRIGUES
Bruxaria pró-fidelidade
BRASÍLIA - É difícil o desafio do
Supremo Tribunal Federal hoje. Os
11 ministros devem votar à tarde se
é constitucional ou não uma decisão do TSE a respeito de fidelidade
partidária. Podem, ao mesmo tempo, fazer justiça e servir de combustível para mais uma traficância no
Congresso.
Há mais de um ano, o TSE decidiu que o mandato de um político
não pertence ao indivíduo, mas ao
partido ao qual ele esteja filiado no
momento da eleição. Trocou de
partido, perdeu o mandato. Acaba
assim a troca indecente de partidos
logo depois do pleito, muitas vezes
até antes do dia da posse.
Há chances reais de o STF julgar
correta essa determinação do TSE.
Confirmada a lógica, do outro lado
da Praça dos Três Poderes o efeito
será equivalente ao de uma insubordinação. O Congresso fará uma
feitiçaria aprovando uma lei para
restaurar a lassidão sem fim nos limites da fidelidade partidária.
Deputados e senadores só vão
sossegar depois de aprovar uma legislação criando o que é chamado,
despudoradamente, de "janela de
infidelidade". Com o interesse próprio em jogo, o índice de produtividade no Congresso se iguala ao dos
trabalhadores de fábricas de bugigangas no interior da China.
Mas bruxaria se combate com
bruxaria. O STF pode não fazer nada hoje. Adia-se o julgamento. O
Congresso se recolheria à sua habitual abulia. Não cassará infiéis nem
alterará a lei. Essa gente só trabalha
quando ameaçada. A decisão do
TSE continuará a ser burlada, num
país odiosamente acostumado a
"leis que não pegam".
A mandinga poderia ser finalizada em 2010. Trata-se de ano eleitoral. As excelências estarão muito
ocupadas com suas reeleições. O
STF poderia então reiterar a decisão do TSE sobre fidelidade partidária. Os infiéis perderiam o mandato. Não haveria tempo para uma
nova legislação. Justiça, enfim.
frodriguesbsb@uol.com.br
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