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ELEIÇÃO ARRISCADA
A pouco mais de 15 dias para o
pleito legislativo iraquiano, a
situação é caótica. O esperado recrudescimento da atividade rebelde produziu mais de cem mortos apenas
neste mês, o que é muito até para os
padrões iraquianos. O próprio premiê interino, Iyad Allawi, reconhece
que na data marcada, o dia 30, haverá
bolsões no país demasiadamente perigosos para que os eleitores possam
votar. A pergunta que se impõe é: se a
segurança está tão precária, por que
não adiar a votação?
Os que insistem em manter a data
têm suas razões. A primeira e mais
eloqüente é que a protelação é justamente o objetivo pretendido pelos
insurgentes. Ceder nesse ponto seria
como dar-lhes a vitória. No mais,
parte dos iraquianos e os norte-americanos estão ansiosos para seguir
com o cronograma de normalização: eleições legislativas, aprovação
de uma Constituição e pleito para o
Executivo -tudo isso a culminar
com a retirada das tropas dos EUA.
São motivos ponderáveis, mas é
preciso examinar também os riscos
de convocar eleições no quadro
atual. A violência não se distribui de
modo uniforme no Iraque. A área
mais afetada, onde deverão concentrar-se os "bolsões" mencionados
por Allawi, é o chamado triângulo
sunita. São os membros desse grupo, ao qual pertencem cerca de 20%
da população, que ficariam sub-representados no Legislativo iraquiano. Importantes partidos sunitas já
anunciaram que não vão disputar cadeiras devido à insegurança.
Embora os xiitas sejam maioria, representando quase 60% da população, a exclusão dos sunitas do processo acentuaria a diferença na representação política -instaurando
um perigoso desequilíbrio, que pode
converter-se futuramente uma guerra entre esses grupos ou mesmo na
fragmentação do país.
A prudência recomendaria melhores condições para realizar o pleito,
mas ao que tudo indica devem prevalecer os que desejam realizá-lo já -a
despeito dos riscos em cena.
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