São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

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ELEIÇÃO ARRISCADA

A pouco mais de 15 dias para o pleito legislativo iraquiano, a situação é caótica. O esperado recrudescimento da atividade rebelde produziu mais de cem mortos apenas neste mês, o que é muito até para os padrões iraquianos. O próprio premiê interino, Iyad Allawi, reconhece que na data marcada, o dia 30, haverá bolsões no país demasiadamente perigosos para que os eleitores possam votar. A pergunta que se impõe é: se a segurança está tão precária, por que não adiar a votação?
Os que insistem em manter a data têm suas razões. A primeira e mais eloqüente é que a protelação é justamente o objetivo pretendido pelos insurgentes. Ceder nesse ponto seria como dar-lhes a vitória. No mais, parte dos iraquianos e os norte-americanos estão ansiosos para seguir com o cronograma de normalização: eleições legislativas, aprovação de uma Constituição e pleito para o Executivo -tudo isso a culminar com a retirada das tropas dos EUA.
São motivos ponderáveis, mas é preciso examinar também os riscos de convocar eleições no quadro atual. A violência não se distribui de modo uniforme no Iraque. A área mais afetada, onde deverão concentrar-se os "bolsões" mencionados por Allawi, é o chamado triângulo sunita. São os membros desse grupo, ao qual pertencem cerca de 20% da população, que ficariam sub-representados no Legislativo iraquiano. Importantes partidos sunitas já anunciaram que não vão disputar cadeiras devido à insegurança.
Embora os xiitas sejam maioria, representando quase 60% da população, a exclusão dos sunitas do processo acentuaria a diferença na representação política -instaurando um perigoso desequilíbrio, que pode converter-se futuramente uma guerra entre esses grupos ou mesmo na fragmentação do país.
A prudência recomendaria melhores condições para realizar o pleito, mas ao que tudo indica devem prevalecer os que desejam realizá-lo já -a despeito dos riscos em cena.


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