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RICARDO MELO
Diplomacia de fachada
SÃO PAULO - É patético. No mesmo momento em que Israel avança
para a guerra urbana em Gaza, o
presidente Lula usa seu programa
de rádio para pedir respeito à decisão do Conselho de Segurança da
ONU sobre um cessar-fogo.
Mera saudação à bandeira. A
ONU, desde a sua fundação, só tem
feito referendar a vontade dos países ricos. Ninguém sério, ou que se
leve a sério, acredita que as Nações
Unidas exerçam algum poder de fato para arbitrar conflitos, interromper guerras e promover a paz.
Ao contrário. O que a ONU tem
feito ao longo de sua história é
chancelar as guerras ao dar poder
de veto a um único país para impedir ações mandatórias. A ONU que
votou pelo cessar-fogo em Gaza é a
mesma que assistiu, aprovando documentos parecidos, à invasão do
Iraque, do Afeganistão (pela URSS
e pelos EUA), à Guerra do Vietnã,
da Coreia e a outras tantas
tragédias.
A retórica é o refúgio preferido da
hipocrisia diplomática. O Brasil
tem sido criticado por alguns por
"condenar" o ataque à faixa de Gaza. Fachada pura. Pergunte qual
iniciativa concreta o Itamaraty ou o
Planalto tomaram para incomodar
o governo israelense. Prepare-se
para o silêncio absoluto. Mas, no
mundo das representações, soa importante mandar nosso chanceler
excursionar pelo Oriente Médio,
aparecer em fotos com o presidente
do Egito e apertar as mãos da ministra israelense que "não vê crise
humanitária" na faixa de Gaza.
Em relação ao que interessa, a
posição brasileira é, na verdade,
oposta. Compare: por muito menos, se é que vidas importam alguma coisa, o Brasil chamou de volta o
embaixador em Quito, até se certificar que o governo Correa honraria
compromissos financeiros com
uma empreiteira. Já em Gaza, trata-se de civis lançados à própria
sorte, manipulados por extremistas
islâmicos e vítimas da brutalidade
da máquina de guerra de Israel. Que
tal, presidente, também chamar
nosso embaixador para conversar?
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