São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2009

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RICARDO MELO

Diplomacia de fachada

SÃO PAULO - É patético. No mesmo momento em que Israel avança para a guerra urbana em Gaza, o presidente Lula usa seu programa de rádio para pedir respeito à decisão do Conselho de Segurança da ONU sobre um cessar-fogo.
Mera saudação à bandeira. A ONU, desde a sua fundação, só tem feito referendar a vontade dos países ricos. Ninguém sério, ou que se leve a sério, acredita que as Nações Unidas exerçam algum poder de fato para arbitrar conflitos, interromper guerras e promover a paz.
Ao contrário. O que a ONU tem feito ao longo de sua história é chancelar as guerras ao dar poder de veto a um único país para impedir ações mandatórias. A ONU que votou pelo cessar-fogo em Gaza é a mesma que assistiu, aprovando documentos parecidos, à invasão do Iraque, do Afeganistão (pela URSS e pelos EUA), à Guerra do Vietnã, da Coreia e a outras tantas tragédias.
A retórica é o refúgio preferido da hipocrisia diplomática. O Brasil tem sido criticado por alguns por "condenar" o ataque à faixa de Gaza. Fachada pura. Pergunte qual iniciativa concreta o Itamaraty ou o Planalto tomaram para incomodar o governo israelense. Prepare-se para o silêncio absoluto. Mas, no mundo das representações, soa importante mandar nosso chanceler excursionar pelo Oriente Médio, aparecer em fotos com o presidente do Egito e apertar as mãos da ministra israelense que "não vê crise humanitária" na faixa de Gaza.
Em relação ao que interessa, a posição brasileira é, na verdade, oposta. Compare: por muito menos, se é que vidas importam alguma coisa, o Brasil chamou de volta o embaixador em Quito, até se certificar que o governo Correa honraria compromissos financeiros com uma empreiteira. Já em Gaza, trata-se de civis lançados à própria sorte, manipulados por extremistas islâmicos e vítimas da brutalidade da máquina de guerra de Israel. Que tal, presidente, também chamar nosso embaixador para conversar?


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