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ELIANE CANTANHÊDE
Bolivianas
BRASÍLIA - O Brasil foi, voltou e a
qualquer hora vai de novo. Ou melhor: vai ter que ir, por causa da argumentação técnica e do bom senso. De que se fala aqui? Da compra
de gás à Bolívia.
O governo anunciou na sexta de
manhã o desligamento de praticamente todas as usinas termelétricas e corte de boa parte da importação do gás boliviano. Com bons motivos: afinal, a chuva torrencial encheu os reservatórios das hidrelétricas, mais baratas e menos poluentes. Tudo resolvido? Não.
Horas depois, a guinada: três usinas seriam religadas e o Brasil compraria até 4 milhões de metros cúbicos a mais por dia do vizinho muy
amigo. O que houve? A chuva acabou? Os tanques furaram?
Não exatamente. O que houve é
que o assessor internacional, Marco Aurélio Garcia, e o embaixador
Samuel Pinheiro Guimarães foram
agregados às reuniões com três ministros bolivianos, em Brasília. E os
dois entronizaram a "questão geopolítica estratégica". A Bolívia é o
país mais pobre da região...
Como me disse Garcia, a solução
foi "tecnicamente viável e politicamente conveniente para os dois lados". O Brasil fica adequadamente
abastecido, e a Bolívia, vendendo
bem para o maior país da América
do Sul, não vai à bancarrota.
Lula pode ir sem susto para a Bolívia na próxima quinta, pronto para ser muito bem recebido e ainda
dar uma "canja" para a campanha
de reeleição de Evo Morales, enquanto circula em Brasília um texto
de uma página e meia do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) justificando a reabertura das
termelétricas e mais gás boliviano.
Há dois probleminhas aí. Primeiro: os motivos ali apresentados são
puramente conjunturais e podem
evaporar em semanas, ou meses. E,
aí, corta-se o gás boliviano de novo,
no recuo do recuo? Segundo: e se
Rafael Correa (Equador) se animar
com a equação do "politicamente
conveniente"? Vai voltar à carga?
Se vale para um, vale para todos.
Aliás, como só tem acontecido.
elianec@uol.com.br
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