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SEXO, DROGAS E HEDONISMO
Depois do Viagra, o Xenical. Os
dois produtos transformaram-se rapidamente em objeto de amplo consumo, muitas vezes sem os cuidados
e o devido acompanhamento médico
que devem preceder a ingestão de
qualquer medicamento.
A procura atabalhoada por tais drogas estaria ligada à idéia ilusória de
perenidade de um corpo humano
predestinado a se comprazer consigo
mesmo, seja pelo prolongamento da
potência sexual, caso do Viagra, seja
por seu enquadramento a um padrão
estético em que beleza e obesidade se
excluem, caso do Xenical.
Não se trata de condenar ou lançar
dúvidas precipitadas sobre a eficácia
de drogas que, antes de serem aprovadas para consumo, passaram por
testes de laboratórios e de autoridades públicas de saúde. Trata-se, antes, de rejeitar o fetiche perigoso que
vai se criando em torno deles.
Insuflado por interesses comerciais, tal fetiche se traduz pelas demandas de uma cultura hedonista,
que induz as pessoas a procurar as
novidades químicas da estação. Fenômeno semelhante se deu com o
Prozac, destinado a tratar de pacientes com problemas depressivos.
Como apurou a Folha, mal começou a ser comercializado no país, o
Xenical já está sendo requisitado de
modo indiscriminado. Para atender a
necessidade de retenção de receita
médica na farmácia, pacientes estão
recorrendo a médicos não especializados em problemas de obesidade.
Mais que a ingênua previsão de que
a ciência, por seu progresso, confortaria a humanidade de todos os males, prevalece a lógica do medicamento como produto comercial.
Tanto Viagra como Xenical podem
beneficiar pacientes que buscam
maior qualidade de vida. Mas, diante
de uma certa histeria coletiva que
despertaram, a melhor receita parece
ser a parcimônia por parte de consumidores, a responsabilidade por parte dos médicos e o controle rígido
por parte das autoridades.
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