São Paulo, Quarta-feira, 13 de Janeiro de 1999
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SEXO, DROGAS E HEDONISMO

Depois do Viagra, o Xenical. Os dois produtos transformaram-se rapidamente em objeto de amplo consumo, muitas vezes sem os cuidados e o devido acompanhamento médico que devem preceder a ingestão de qualquer medicamento.
A procura atabalhoada por tais drogas estaria ligada à idéia ilusória de perenidade de um corpo humano predestinado a se comprazer consigo mesmo, seja pelo prolongamento da potência sexual, caso do Viagra, seja por seu enquadramento a um padrão estético em que beleza e obesidade se excluem, caso do Xenical.
Não se trata de condenar ou lançar dúvidas precipitadas sobre a eficácia de drogas que, antes de serem aprovadas para consumo, passaram por testes de laboratórios e de autoridades públicas de saúde. Trata-se, antes, de rejeitar o fetiche perigoso que vai se criando em torno deles.
Insuflado por interesses comerciais, tal fetiche se traduz pelas demandas de uma cultura hedonista, que induz as pessoas a procurar as novidades químicas da estação. Fenômeno semelhante se deu com o Prozac, destinado a tratar de pacientes com problemas depressivos.
Como apurou a Folha, mal começou a ser comercializado no país, o Xenical já está sendo requisitado de modo indiscriminado. Para atender a necessidade de retenção de receita médica na farmácia, pacientes estão recorrendo a médicos não especializados em problemas de obesidade.
Mais que a ingênua previsão de que a ciência, por seu progresso, confortaria a humanidade de todos os males, prevalece a lógica do medicamento como produto comercial.
Tanto Viagra como Xenical podem beneficiar pacientes que buscam maior qualidade de vida. Mas, diante de uma certa histeria coletiva que despertaram, a melhor receita parece ser a parcimônia por parte de consumidores, a responsabilidade por parte dos médicos e o controle rígido por parte das autoridades.


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