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Hemorragia
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Deixou de ser uma crise,
virou uma hemorragia. Uma tremenda hemorragia de divisas, que ameaça
tragar o real e até o governo Fernando
Henrique Cardoso, na avaliação separada mas coincidente que a Folha ouviu ontem de setores empresariais e
diplomáticos.
Não creio nesta última hipótese, excessivamente tremendista. Mas que o
governo está na iminência de se ver
forçado a desvalorizar a moeda, quase
ninguém mais duvida. Na prática, o
jogo parece estar entre tentar uma
desvalorização sob controle ou ser tragado pela maré montante da fuga de
capitais, que levaria a uma desvalorização à la México-94 (o governo tentou limitá-la a uns 15% e acabou engolindo 100%).
A única hipótese restante, para evitar esse desenlace, parece residir no
que José Carlos de Faria, do ING Barings em São Paulo, chama de "surpresa positiva", para contrabalançar a
coleção de surpresas negativas que o
governo (e o país) vem conhecendo.
Pode ser um acordo político com governadores e congressistas para aprovar mais rapidamente medidas do pacote fiscal. Mas teria que ser algo tão
forte que os mercados "comprem", hipótese que não está no horizonte.
Ainda mais que o prazo para que
ocorra tal "surpresa positiva" se esgota
já não mais em semanas, mas em dias.
O economista do Barings ousa calcular que, se não houver nada nessa direção nos próximos cinco dias, a hipótese da desvalorização acabará virando uma profecia que se autocumpre.
Posto de outra forma: os mercados,
olhando a profunda hemorragia de
divisas, chegarão rapidamente à conclusão de que o governo será obrigado
a agir, para não ficar com reservas
minguadas demais. Com base nessa
expectativa, mais dinheiro será retirado do país e a desvalorização se tornará inexorável.
É pois uma corrida contra o tempo.
E o tempo está se esgotando a uma velocidade assustadora.
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