São Paulo, Quarta-feira, 13 de Janeiro de 1999
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Hemorragia

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Deixou de ser uma crise, virou uma hemorragia. Uma tremenda hemorragia de divisas, que ameaça tragar o real e até o governo Fernando Henrique Cardoso, na avaliação separada mas coincidente que a Folha ouviu ontem de setores empresariais e diplomáticos.
Não creio nesta última hipótese, excessivamente tremendista. Mas que o governo está na iminência de se ver forçado a desvalorizar a moeda, quase ninguém mais duvida. Na prática, o jogo parece estar entre tentar uma desvalorização sob controle ou ser tragado pela maré montante da fuga de capitais, que levaria a uma desvalorização à la México-94 (o governo tentou limitá-la a uns 15% e acabou engolindo 100%).
A única hipótese restante, para evitar esse desenlace, parece residir no que José Carlos de Faria, do ING Barings em São Paulo, chama de "surpresa positiva", para contrabalançar a coleção de surpresas negativas que o governo (e o país) vem conhecendo.
Pode ser um acordo político com governadores e congressistas para aprovar mais rapidamente medidas do pacote fiscal. Mas teria que ser algo tão forte que os mercados "comprem", hipótese que não está no horizonte.
Ainda mais que o prazo para que ocorra tal "surpresa positiva" se esgota já não mais em semanas, mas em dias. O economista do Barings ousa calcular que, se não houver nada nessa direção nos próximos cinco dias, a hipótese da desvalorização acabará virando uma profecia que se autocumpre.
Posto de outra forma: os mercados, olhando a profunda hemorragia de divisas, chegarão rapidamente à conclusão de que o governo será obrigado a agir, para não ficar com reservas minguadas demais. Com base nessa expectativa, mais dinheiro será retirado do país e a desvalorização se tornará inexorável.
É pois uma corrida contra o tempo. E o tempo está se esgotando a uma velocidade assustadora.


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