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O FIM DA "ERA ROOSEVELT"
Há quatro anos, quando o
governo Bush anunciou seu
agressivo programa de cortes de impostos e começou a aumentar dramaticamente os gastos militares,
muitos analistas alertaram para o perigo de que essas iniciativas se traduzissem em desequilíbrio das contas
públicas. O risco era que, somado ao
déficit das contas externas norte-americanas, o desajuste fiscal contribuísse para um acentuado enfraquecimento do dólar. A realidade, está
claro, confirmou os prognósticos.
Alguns críticos, todavia, entre os
quais o economista Paul Krugman,
iam além. Em primeiro lugar, salientavam o caráter concentrador de renda dos cortes de impostos, que beneficiaram de maneira mais intensa as
camadas ricas da sociedade. Em segundo lugar, alertavam para a possibilidade de que o expansionismo fiscal de Bush previsse uma ambiciosa
agenda subjacente de reformas voltadas para o desmonte da rede de proteção social do Estado de Bem-estar
em sua versão norte-americana.
O argumento desses críticos era
que a administração Bush não desconhecia o impacto adverso que suas
iniciativas teriam sobre a saúde fiscal
do país. Pelo contrário: o enfraquecimento das finanças públicas seria o
passo que antecederia uma posterior
aprovação das reformas preconizadas pelas alas mais ortodoxas -e ultraliberais- do partido Republicano. O desequilíbrio fiscal, em grande
parte justificado pela guerra ao terrorismo, caracterizaria uma situação
de emergência que enfraqueceria as
resistências dos parlamentares às
propostas do Executivo.
Recebido de início com reservas
por muitos analistas, por soar conspiratório, é provável que o argumento encontre agora maior acolhida.
Pois a proposta de Orçamento recentemente apresentada, além de reconhecer a necessidade de dar início a
um ajuste fiscal, sugere que ele seja
feito por meio de cortes agressivos de
gastos em programas sociais, mantendo intocadas -ou ainda maiores- as despesas militares.
O símbolo dessa ofensiva é o desejo da Casa Branca de privatizar em
parte o sistema de Previdência dos
EUA -medida que, de resto, tem sido debatida e implantada em diversos países. Tornando a polêmica
proposta mais palatável, o grande
volume de recursos fiscais requeridos para financiar a transição para o
novo regime previdenciário não foi
incluído na proposta de Orçamento,
a exemplo dos gastos militares extras
com o Iraque e o Afeganistão.
Essas omissões deixam dúvidas
quanto ao real empenho do governo
Bush em promover um rigoroso
ajuste fiscal. O que está claro é o propósito do presidente de minar os
princípios de atuação do Estado lançados pelo presidente Franklin Roosevelt, no bojo do "New Deal", quando os EUA procuravam superar a
mais grave crise de sua história -a
Grande Depressão de 1929.
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