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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Arcaico e pós-moderno
SÃO PAULO - Para a sorte do PT,
nunca antes na história deste país
um escândalo foi tão bem documentado. Meias, cuecas, bolsas recheadas com maços de dinheiro
-as imagens do mensalão do DEM
são devastadoras. Seria difícil para a
gangue do panetone resistir à exposição televisiva de cenas de descalabro tão didáticas e autoexplicativas.
A prisão preventiva do governador José Roberto Arruda atende a
um clamor da opinião pública. Tem
sido essa, na prática, a punição de
alguns ladrões notórios nos últimos
tempos: humilhação e mais algumas (ou várias) noites no xilindró
funcionam como atalho e compensação simbólica a um processo legal
que é interminável e quase sempre
passa a sensação de impunidade.
Arruda já era carta fora do baralho antes de ser preso. Em pouco
tempo, se viu reduzido a um pilantra de província, um pária sem partido e conexão com a política nacional. Mas isso não era assim.
Dez dias antes da eclosão do escândalo, um sorridente Arruda aparece com o pé quebrado, numa cadeira de rodas, cercado pela cúpula
demista, numa imagem histórica.
Jorge Bornhausen, Gilberto Kassab, Rodrigo Maia, Ronaldo Caiado,
Agripino Maia e mais dezenas de
ilustres democratas estão ao redor
do anfitrião, num evento destinado
a discutir os termos do apoio aos tucanos nas eleições (veja a foto em
www.folha.com.br/100435).
O DEM definha e Arruda acabou.
Mas é uma ilusão pensar que na sua
ausência o faroeste caboclo irá melhorar. A história política do Distrito Federal tem muito menos a ver
com a república vislumbrada por
Niemeyer do que com o patrimonialismo dos grotões e o vale-tudo
típico das regiões de fronteira.
Terra de Arruda e de seu padrinho, o coronel do cerrado Joaquim
Roriz, mas também do vice-governador, Paulo Octávio, de Luiz Estevão, o senador cassado, e de Gim
Argello, o senador neolulista em ascensão, o DF é uma terra de bravos
e de oportunidades. Ali, o arcaico e
o pós-moderno se juntaram para
desafiar a modernidade do Brasil.
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