São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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REFÉNS DA PF

A greve de funcionários da Polícia Federal é um desses movimentos que acabam por transformar a sociedade em refém de interesses corporativos. Mais grave ainda, trata-se de uma instituição ligada à área de segurança, que está entre os serviços públicos essenciais.
É óbvio que o relaxamento do trabalho policial e os transtornos causados pela operação padrão em aeroportos não visam a despertar simpatias ou solidariedade dos cidadãos em relação aos grevistas. O que se tem, na realidade, é uma aposta na confusão comandada por representantes de um órgão que deveria trabalhar do lado da ordem. Pretende-se, com isso, gerar irritações e criar fatos com ampla repercussão na mídia, algo que poderia colocar as autoridades governamentais na defensiva e favorecer o atendimento das reivindicações em pauta.
Há controvérsias sobre o mérito da disputa. Em síntese, os policiais reclamam o cumprimento de uma lei que lhes asseguraria salários equivalentes a postos de nível superior. Exigem equiparação aos vencimentos dos delegados. Já o Ministério da Justiça entende que a lei estabelece os diversos níveis salariais e não considera aceitável que agentes possam receber o mesmo que delegados. No pano de fundo da posição governista está a conhecida escassez de recursos financeiros.
Não há nenhuma dúvida de que a PF, como outras tantas áreas do setor público brasileiro, passa por graves dificuldades. Ninguém duvida também de que a remuneração de policiais -não apenas na área federal- esteja muito aquém do que seria desejável. O próprio ministro da Justiça já reconheceu essa realidade, embora a solidariedade retórica oficial nada resolva de concreto.
É de esperar que a PF e o governo procurem encerrar o quanto antes esse patético episódio, no qual cidadãos são prejudicados por quem na realidade deveria protegê-los.


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