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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Vícios públicos e privados
SÃO PAULO - Em artigo publicado anteontem na seção "Tendências/Debates", a professora Marilena Chaui
procura depositar na conta da imperfeição institucional as negociatas que
se sucedem nos nebulosos territórios
da captação de recursos para campanhas e das negociações entre Executivo e Legislativo.
A tese é que os seres humanos não
agem apenas racionalmente, mas são
movidos por paixões, o que nos conduziria à necessidade de organizar as
instituições de modo a induzi-los a
"bem administrar". Sendo assim, a
crítica moralizante à corrupção deveria ceder lugar à "crítica cívica das
instituições".
Transposto para a atualidade, o argumento sugere que não devemos
criticar o ministro José Dirceu, mas o
arcabouço institucional que o compele a manobrar temerariamente. A
conclusão é que, se não fossem as distorções da representação política e as
falhas no sistema de financiamento
de campanhas, o PT poderia ter eleito maioria parlamentar, o que restringiria o balcão político. E não haveria necessidade de "operadores"
como Waldomiro Diniz para pedir
dinheiro a "empresários do bingo".
Certamente aperfeiçoamentos institucionais são necessários e podem
estimular a ação virtuosa, mas, mesmo que isso ocorra, não há como aliviar os agentes políticos da parcela de
responsabilidade pela qual precisam
responder.
No caso das administrações petistas, não se trata, de fato, de exigir
que as supostas virtudes privadas de
seus quadros se traduzam em virtudes públicas num ambiente institucional vicioso. A crítica deve ser feita,
como quer a professora, a uma instituição pública, no caso o PT. O partido sempre apareceu para a sociedade como o guardião-mor da pauta
republicana, mas os sinais cada vez
mais enfáticos são de que, uma vez
no poder, está utilizando essa prerrogativa para acobertar sua cumplicidade com os vícios públicos -e não
para assumir a liderança moral e política de uma transformação.
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