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CARLOS HEITOR CONY
Questão pessoal
RIO DE JANEIRO - Pode parecer exagero da parte do cronista, mas, quando soube do último desabafo do Aloizio Mercadante a respeito da crise
que envolve o governo e o PT, lembrei-me, nada mais, nada menos, do
papa João Paulo 2º.
Mercadante assumiu lucidamente
sua posição, sem subterfúgios e quase
sem entrar no mérito dela. Como líder do governo, defende o governo.
Como membro do PT, adota a linha
do partido pelo qual foi eleito senador com uma votação espetacular.
A comparação com a linha do pontificado do papa atual procede. Há
um consenso de que sua atuação no
cenário internacional, como líder espiritual de 1 bilhão de crentes, marcará a história do nosso tempo. Contudo ele vem sofrendo pesadas críticas
de parte considerável dos católicos,
que não aprovam o seu conservadorismo, condenando o aborto, a pílula,
o sacerdócio das mulheres e o casamento dos homossexuais.
Num caso como o dele, é irrelevante
entrar no mérito de suas posições,
consideradas anacrônicas por muitos
católicos. Ele foi eleito papa para defender um conjunto de crenças e tradições que, certas ou erradas, formam o patrimônio de uma instituição duas vezes milenar. Nada de admirar que seja fiel a esse patrimônio.
Em escala diferente, mas com igual
significado, a posição de Mercadante
é a mesma. Ele representa um partido e um governo que podem, eventualmente, estar na contramão da
história, e pessoalmente considero
que tanto o PT como o grupo que está
no poder embarcaram numa canoa
furadíssima.
Como acontece nos naufrágios, somente os ratos abandonam o barco
em perigo. Assim como o papa comprou o pacote integral de sua crença,
o senador petista fez o mesmo, e
quem sabe, nas entranhas do partido
e do governo, tenha opinião parcialmente discordante da maioria. É
uma questão pessoal que só ele tem o
direito de decidir.
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