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CLÓVIS ROSSI
Uma crise feita de palpites?
SÃO PAULO - Começo a achar que
a crise financeira global está muito
mais nos palpites dos entendidos
(supostos ou reais) e nos cassinos
também chamados de mercados do
que na rua.
Já comentei aqui mesmo que, na
Espanha, havia uma contraditória
percepção sobre a crise, conforme
pesquisa recente: a maioria relativa
dos entrevistados, quase 50%,
achava "má/muito má" a situação
do país, ao mesmo tempo em que
porcentagem idêntica dizia ser
"boa/muito boa" a sua própria situação pessoal.
Agora, surgem dados sobre a economia do conjunto da zona do euro
(do qual faz parte a Espanha) que
apontam para um cenário menos
apocalíptico do que dizem alguns
(ou muitos) economistas. A produção industrial, o dado de ontem,
cresceu 0,9% em janeiro, o triplo do
que era geralmente esperado.
Aí, deu-se o seguinte: o euro subiu de novo, batendo o recorde de
cotação em relação ao dólar. Cada
euro chegou a valer US$ 1,55, antes
de recuar levemente para US$ 1,54,
assim mesmo uma enormidade.
Subiu, dizem os analistas, exatamente porque a economia européia
permanece "resiliente ante a turbulência nos mercados financeiros
globais", como informa o "Financial Times".
Tudo bem. Vamos admitir que,
de fato, a economia européia esteja
mais resistente do que se afirmava.
Mas alguém aí pode, por favor, me
explicar duas coisinhas básicas? A
saber:
1 - A economia européia não estava esclerosada, não era incapaz de
competir com a norte-americana,
segundo todos os arautos do pensamento único?
2 - Como é possível que, na terça-feira, o dólar se recupere e volte a
cair na quarta a não ser por apostas
especulativas? Ou vão me dizer que
uma economia, qualquer que seja,
fica forte num dia e fraca apenas 24
horas depois, arrastando na gangorra a sua moeda?
crossi@uol.com.br
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