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ELIANE CANTANHÊDE
Meia volta, volver
BRASÍLIA - Depois de criticar a
Colômbia pelo ataque às Farc no
Equador e de discordar tanto de
Hugo Chávez (anti-Colômbia)
quanto de George W. Bush (pró)..., o
Brasil faz o caminho inverso. Antes,
mordia. Agora, assopra.
Ontem, Celso Amorim (Relações
Exteriores) não poderia ter sido
mais claro e incisivo contra as Farc
no Senado. Disse que o Brasil não é
neutro, condena qualquer ato terrorista e nega o início de um "diálogo político" com Farc: "Queremos a
paz sem ceder espaço a uma organização que não merece espaço".
Também ontem, Lula rompeu
um jejum de dez dias e telefonou
para Chávez, a quem até elogiou por
ter sido o mais sorridente, efusivo e
receptivo quando o rival Uribe pediu desculpas na reunião da República Dominicana que selou a paz.
Hoje, Lula e Amorim vão deixar
claro também para a secretária de
Estado dos EUA, Condoleezza Rice,
que o Brasil gostou do recuo americano e da sua posição na OEA (Organização dos Estados Americanos), de não-ingerência em assuntos internos da América Latina.
Assoprar é uma forma de evoluir
as negociações que resultaram na
paz entre Colômbia e Equador para
discutir o que fazer com as Farc,
num momento em que o governo
Álvaro Uribe está na ofensiva, e o
grupo, na defensiva -e perdendo.
Uma proposta a ser colocada na
mesa na reunião de chanceleres da
OEA na próxima segunda é de uma
comissão permanente para fiscalizar as fronteiras. Uma comissão militar, não diplomática. E, com isso,
forjar o clima favorável para a melhor saída possível para as Farc.
A intenção é exigir como premissa que os líderes soltem suas centenas de reféns em troca da própria
vida e, talvez, da sobrevida do movimento em outras bases e com outras formas de ação. Não seria a primeira vez que um grupo guerrilheiro sairia das sombras e das selvas
para assumir um status político.
Uma costura dificílima, não impossível.
elianec@uol.com.br
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