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CARLOS HEITOR CONY
Província e metrópole
RIO DE JANEIRO - Um historiador nordestino continua criticando
o Rio por estar dando destaque às
comemorações do bicentenário da
chegada da corte de dom João ao
Brasil. Segundo o mestre do nosso
setentrião, que neste particular é
acompanhado por mestres de outros Estados, inclusive de São Paulo, a badalação sobre a vinda de fugitivos de Napoleão é apenas uma
jogada de marketing, destinada a
encobrir as mazelas de uma cidade
que deveria estar preocupada em
combater a violência urbana, que
envergonha não apenas a cidade
mas o país inteiro.
Acontece que a vinda da corte
portuguesa para o Brasil é um dos
poucos episódios de nosso passado
que merecem fazer parte da história universal. Foi uma derrota de
Napoleão e um motivo a mais para
seu ódio contra a Inglaterra, que
culminaria na derrota final em Waterloo.
Embora modesta no cenário
mundial, a monarquia portuguesa
deu um exemplo às monarquias
bem mais poderosas, que somente
no Congresso de Viena voltaram a
ocupar o trono do qual foram expulsas pelos exércitos franceses.
Fugindo ou recuando, o fato é que
dom João não foi derrotado por Napoleão. Os Braganças continuaram
no trono, apesar do vendaval que
varreu a Europa.
À margem do contexto internacional, o Brasil deixou de ser colônia e passou a ser metrópole, apesar
da bagunçada transferência de tantos portugueses para cá. A Independência de 1822 não teria havido sem
a chegada da corte de Lisboa ao Rio.
E a cidade não tem culpa de ter sido
sede de um império europeu.
Em muitos sentidos, o Brasil só
começou a existir em 1808. Criticar
o Rio por estar comemorando este
bicentenário é a expressão de um
provincianismo até certo ponto estúpido. O grito às margens plácidas
do Ipiranga não é um fato paulista.
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