São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

Província e metrópole

RIO DE JANEIRO - Um historiador nordestino continua criticando o Rio por estar dando destaque às comemorações do bicentenário da chegada da corte de dom João ao Brasil. Segundo o mestre do nosso setentrião, que neste particular é acompanhado por mestres de outros Estados, inclusive de São Paulo, a badalação sobre a vinda de fugitivos de Napoleão é apenas uma jogada de marketing, destinada a encobrir as mazelas de uma cidade que deveria estar preocupada em combater a violência urbana, que envergonha não apenas a cidade mas o país inteiro.
Acontece que a vinda da corte portuguesa para o Brasil é um dos poucos episódios de nosso passado que merecem fazer parte da história universal. Foi uma derrota de Napoleão e um motivo a mais para seu ódio contra a Inglaterra, que culminaria na derrota final em Waterloo.
Embora modesta no cenário mundial, a monarquia portuguesa deu um exemplo às monarquias bem mais poderosas, que somente no Congresso de Viena voltaram a ocupar o trono do qual foram expulsas pelos exércitos franceses. Fugindo ou recuando, o fato é que dom João não foi derrotado por Napoleão. Os Braganças continuaram no trono, apesar do vendaval que varreu a Europa.
À margem do contexto internacional, o Brasil deixou de ser colônia e passou a ser metrópole, apesar da bagunçada transferência de tantos portugueses para cá. A Independência de 1822 não teria havido sem a chegada da corte de Lisboa ao Rio. E a cidade não tem culpa de ter sido sede de um império europeu.
Em muitos sentidos, o Brasil só começou a existir em 1808. Criticar o Rio por estar comemorando este bicentenário é a expressão de um provincianismo até certo ponto estúpido. O grito às margens plácidas do Ipiranga não é um fato paulista.


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