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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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QUEM SERÁ O PRÓXIMO?

A contundente vitória militar dos EUA sobre o Iraque lança o mundo diante de novas perspectivas na geopolítica. O risco maior é o de os "falcões" do governo de George W. Bush gostarem do resultado da aventura e tentarem expandi-la.
Nesse sentido, são inquietantes as ameaças veladas que autoridades norte-americanas vêm fazendo a outros países com os quais Washington mantém desentendimentos. Na quarta-feira, depois de encontrar-se com representantes do Vaticano, em Roma, o subsecretário de Estado para Controle de Armas e Segurança Internacional, John Bolton, citou nominalmente a Síria e a Coréia do Norte e disse que esses países deveriam aprender com "as lições do Iraque" e desistir de seus programas de "armas de destruição em massa". Armamento que, registre-se, ainda não foi encontrado no Iraque.
Declarações de teor semelhante deram o vice-presidente, Dick Cheney, e o subsecretário de Defesa, Paul Wolfowitz. É verdade que Cheney, Bolton e Wolfowitz representam a ala mais à direita do Partido Republicano, os chamados "falcões", mas, infelizmente, é essa gente que vem dando as cartas na administração Bush, e sua influência tende a crescer com o sucesso militar no Iraque.
O pior é que, pelo momento, as teses intervencionistas contam com o apoio da população. Pesquisas indicavam que 50% dos norte-americanos eram favoráveis a uma ação militar contra o Irã caso o país continuasse procurando "desenvolver armas nucleares" e 42% apoiariam o uso da força contra a Síria se esta estivesse ajudando Saddam Hussein.
A Doutrina Bush de fato preconiza ataques preventivos e unilaterais contra países ou grupos que constituam uma ameaça aos EUA ou que possam vir a sê-lo. Uma administração de bom senso, contudo, evitaria ao máximo o recurso às armas. Na verdade, depois do Iraque, a simples ameaça de ataques já tende a funcionar como força dissuasiva. Só que o bom senso não tem sido a marca da gestão Bush. Tampouco caracteriza o comportamento de ditadores como Kim Jong-il, da Coréia do Norte, ou terroristas como Osama bin Laden. Não se pode descartar, pois, a possibilidade de ações imprudentes.
Além do Iraque de Saddam Hussein, faziam parte do "eixo do mal" o Irã e a Coréia do Norte. Nas últimas semanas, a Síria vem galgando degraus na escala dos "grandes vilões" de George W. Bush. Sabe-se também que Washington está profundamente descontente com a Arábia Saudita. Quem será o próximo?
Para além de o principal pretexto para a guerra -a existência de armas de destruição em massa- ter sido inexplicavelmente esquecido por Bush, a noção de ataque preventivo contra ameaças futuras, e não contra ataques iminentes, é inadmissível. Se ela fosse um "direito", como querem os ideólogos da Casa Branca, e todos os países a aplicassem, o mundo viveria um estado de guerra permanente, incompatível com a vida e com o progresso das nações.



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