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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Lendas modernas

WASHINGTON- Lenda número 1 - A rua árabe levantar-se-ia encolerizada ante a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e sua ira levaria ao chão os regimes autocráticos que, ao contrário do de Saddam, são apoiados pelos EUA.
A rua árabe mexeu-se, é verdade, mas não mais do que as ruas de Londres, de Madri, de Paris e até de Nova York. Houve manifestações contra a guerra, mas não foram mais numerosas do que as registradas em países que participam da invasão.
A lenda da rua árabe, aliás, já surgira na Guerra do Golfo (1991). Não aconteceu nada, mas ainda assim muita gente boa embarcou de novo na história.
O fato é que não parece haver no mundo árabe forças organizadas que levantem a rua e ponham os governos contra a parede. Está-se vendo, aliás, no caso iraquiano, que as ruas de Bagdá estão mais para Rio de Janeiro do que para Berlim na época da queda do Muro.
Lenda número 2 - A invasão do Iraque levaria à criação de cem Bin Ladens, na versão, por exemplo, do presidente egípcio Hosni Mubarak.
Nesse caso, a aferição da lenda é bem mais complicada, porque entidades terroristas não põem anúncio em jornal comunicando seu nascimento, endereço, CIC e RG.
Mas o fato é que o melhor momento para praticar atos terroristas teria sido durante os 21 dias em que o regime de Saddam Hussein ainda resistiu, embora mal e porcamente. O que houve foram apenas ataques suicidas, que cabem, nesse caso, mais na lista de atos de guerra do que de terrorismo -como os camicases japoneses da Segunda Guerra Mundial (para que não me venham com mais uma lenda, a de que os árabes e só os árabes são fanáticos).
É até curioso que, ao contrário dos terroristas convencionais, a tal de Al Qaeda não assine seus atos.
É igualmente curioso que, no mundo do paroxismo da informação, sobrevivam lendas, às vezes com mais força que a própria informação.



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