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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

As ilusões perdidas

RIO DE JANEIRO - Nos primeiros vagidos da internet, garantiram-me que eu poderia, comodamente, sem sair de casa, comunicar-me diretamente com o papa, com o presidente dos EUA, com o dalai-lama, com o Frank Sinatra (que ainda estava vivo) e até com a rainha da Inglaterra.
Eu argumentei que nada tinha a comunicar a esses personagens e que dificilmente eles teriam alguma coisa a me comunicar, muito menos pedindo-me qualquer tipo de opinião.
Mesmo assim, para continuar atuando na profissão, fui obrigado a equipar-me tecnologicamente, substituindo minha velha Remington pelo notebook, e a dispensar os contínuos da redação para levar meus textos. No dia em que mandei a primeira crônica pela internet, senti-me um contemporâneo de Flash Gordon, que, embora seja um personagem do passado, vivia num futuro que ainda não chegou.
Daí que não me espanta o fato de o presidente George W. Bush não ter tomado conhecimento do que venho escrevendo contra ele e a sua desastrada idéia de tomar conta do mundo. Uma das anedotas da imprensa nacional é aquela de importante órgão paulista que começou um editorial reclamando que o presidente Eisenhower não havia levado em consideração o editorial anterior sobre a guerra da Coréia.
Essas coisas acontecem. Se dependesse da mídia nacional, e acredito que da maioria da mídia internacional, o presidente Bush já se teria apresentado a uma clínica psiquiátrica, pedindo uma camisa-de-força e um tratamento adequado para a sua loucura.
Modestamente, e inutilmente, continuarei a dar meus palpites enquanto deixarem. Não descarto a possibilidade de eu próprio fazer o que ficou sugerido linhas acima: pedir uma camisa-de-força e um tratamento radical para a loucura de tentar melhorar o mundo. E, na impossibilidade de melhorar a vida de todos, melhorar ao menos a minha própria vida.



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