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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Brasília fashion
SÃO PAULO - A coleção de escândalos do Congresso Nacional na
temporada verão-outono deste ano
está mesmo de arrasar. Desafiando
a crise mundial, nossos estilistas
tropicais se mostram mais do que
nunca arrojados ao lançar novas
tendências de apropriação do bem
comum e outras modas.
O saldão começou cedo. Servidores que recebem hora extra durante
o recesso parlamentar; parlamentares que esquentam despesas inexistentes com notas das próprias
empresas; diretores que procriam
como coelhos pelo Senado (são 38?
181?); parlamentares "éticos" que
pagam suas domésticas com verba
pública; contas telefônicas de R$ 6
mil mensais, em média; um festival
de livros autopromocionais impressos com o dinheiro do contribuinte na gráfica do Senado.
Funcionários fantasmas, nepotismo, compadrios -são pequenas
peças a compor o figurino do patrimonialismo e o guarda-roupa da
corrupção. A coleção de abusos tem
a grife do PMDB, mas é confeccionada por todos os partidos. O tricô
corporativo dispensa ideologia.
Fernando Collor, um velho estilista da modernidade de antigamente, tido como cafona e ultrapassado, voltou à cena fashion de Brasília. Agora divide o palco com o jaquetão de José Sarney e não chega a
roubar o brilho de estrelas em ascensão no cerrado, como Gim Argelo. São todos gratos pelos serviços
de alfaiataria de Renan Calheiros.
Falta à temporada de maracutaias prêt-à-porter, é verdade, o glamour de outros escândalos, como o
do mensalão, que revelou ao país os
segredos da alta costura do PT. Ou o
dos sanguessugas, que fez sucesso
no varejo do baixo clero, para não
lembrar dos Anões do Orçamento,
roubança de corte mais tradicional.
Nossos artistas parecem incomodados com a "perseguição" da imprensa. É preciso preservar a instituição, alertam, como se o clichê retórico pudesse legitimar ou redimir
a cultura interna do descalabro.
A preocupação que eles revelam
com a democracia é menos autêntica do que o sorriso da modelo diante dos flashes na passarela.
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