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POBRE DE NINGUÉM
Pobres não podem dar-se ao luxo de escolher onde viver. Eles
se mudam para lugares em que possam pagar o aluguel. O resultado
desse movimento, que já perdura no
tempo, tem sido a ocupação desordenada das periferias e o reforço de
mecanismos de exclusão social.
Como mostrou reportagem de Edney Cielici Dias, publicada no último
domingo, levantamento inédito do
Centro de Estudos da Metrópole, do
Cebrap (Centro Brasileiro de Análise
e Planejamento), as áreas de pobreza
contínua na Grande São Paulo já reúnem uma população de 7,2 milhões,
ou seja, 41% dos habitantes da região
metropolitana. Nesses corredores
periféricos de privação social, predominam chefes de família com baixa
renda e baixa escolaridade e ainda há
grande presença de crianças e adolescentes.
O que é particularmente perverso é
que a própria distribuição geográfica
da pobreza tende a perenizá-la. Os
lugares onde os aluguéis são mais
baixos tendem a ser áreas sem infra-estrutura, frequentemente na "terra
de ninguém" que são as regiões de
fronteira entre municípios. Seus habitantes, que já são pobres, terão
mais dificuldade para encontrar escolas para seus filhos, creches, postos de saúde -aquele mínimo de
serviços do Estado que poderia, com
um pouco de sorte, ajudá-los a romper o círculo vicioso da miséria.
Ocorre até o fenômeno inverso.
Prefeitos costumam pensar duas vezes antes de investir recursos em
áreas onde o "benefício" será pulverizado entre eleitores de outras cidades. Assim, os habitantes das regiões
de fronteira encontrarão dificuldades adicionais para obter a instalação
de um posto de saúde, por exemplo.
É preciso que nas grandes concentrações urbanas encontrem-se canais para o desenvolvimento de políticas metropolitanas, não simplesmente municipais. Infelizmente, esse tipo de integração apenas engatinha. Eis um desafio para o Ministério das Cidades, a despeito dos poucos recursos de que dispõe.
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