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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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POBRE DE NINGUÉM

Pobres não podem dar-se ao luxo de escolher onde viver. Eles se mudam para lugares em que possam pagar o aluguel. O resultado desse movimento, que já perdura no tempo, tem sido a ocupação desordenada das periferias e o reforço de mecanismos de exclusão social.
Como mostrou reportagem de Edney Cielici Dias, publicada no último domingo, levantamento inédito do Centro de Estudos da Metrópole, do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), as áreas de pobreza contínua na Grande São Paulo já reúnem uma população de 7,2 milhões, ou seja, 41% dos habitantes da região metropolitana. Nesses corredores periféricos de privação social, predominam chefes de família com baixa renda e baixa escolaridade e ainda há grande presença de crianças e adolescentes.
O que é particularmente perverso é que a própria distribuição geográfica da pobreza tende a perenizá-la. Os lugares onde os aluguéis são mais baixos tendem a ser áreas sem infra-estrutura, frequentemente na "terra de ninguém" que são as regiões de fronteira entre municípios. Seus habitantes, que já são pobres, terão mais dificuldade para encontrar escolas para seus filhos, creches, postos de saúde -aquele mínimo de serviços do Estado que poderia, com um pouco de sorte, ajudá-los a romper o círculo vicioso da miséria.
Ocorre até o fenômeno inverso. Prefeitos costumam pensar duas vezes antes de investir recursos em áreas onde o "benefício" será pulverizado entre eleitores de outras cidades. Assim, os habitantes das regiões de fronteira encontrarão dificuldades adicionais para obter a instalação de um posto de saúde, por exemplo.
É preciso que nas grandes concentrações urbanas encontrem-se canais para o desenvolvimento de políticas metropolitanas, não simplesmente municipais. Infelizmente, esse tipo de integração apenas engatinha. Eis um desafio para o Ministério das Cidades, a despeito dos poucos recursos de que dispõe.


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