UOL




São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Mudar, mas com decência

BUENOS AIRES- Antes de mudar-me espiritualmente para Buenos Aires de vez, uma última palavra sobre os mal chamados radicais do PT, agora oficialmente colocados no "paredón" da Comissão de Ética.
Ao contrário do que tenho ouvido de amigos no governo, não se trata de ser a favor dos radicais. Por uma simples e boa razão: eles não precisam disso. São "grandinhos", vacinados, têm representatividade, função pública, auditórios e, circunstancialmente, as atenções da mídia.
Tampouco se trata de condená-los pela suposição de que só criticam, "não têm projeto". Bobagem. Projeto eles têm. É o do PT, pelo menos até o PT mudar de opinião sem combinar com os russos, ou seja, com todo mundo no partido. Afinal, não leva a assinatura de Luiz Inácio Lula da Silva um texto que diz ser "injusta e imoral" a cobrança dos inativos, exatamente o ponto que está sendo usado para o fuzilamento dos dissidentes? José Dirceu e José Genoino também não eram contrários a isso?
O que está em jogo nesse caso é a decência política. Todo partido e todo dirigente partidário têm o direito de mudar de opinião.
Partidos socialistas europeus deram formidáveis guinadas. Mas, atenção, sempre o fizeram em reuniões das máximas instâncias partidárias, que ficaram na história. Bad Godesberg, por exemplo, é referência até hoje na literatura sobre o SPD alemão porque foi nessa cidade que o partido abandonou o marxismo.
O Partido Trabalhista britânico fez mais ou menos o mesmo recentemente, em um congresso presidido por Tony Blair, que depois viria a ser primeiro-ministro, ao renegar a cláusula 6 (salvo erro de memória) de sua Constituição, que pregava a estatização dos meios de produção.
Mas foram sempre decisões precedidas de reflexão e anteriores a uma dada vitória eleitoral. O que não é sério nem decente é um partido e seus líderes dormirem contrários à contribuição dos inativos, acordarem no dia seguinte favoráveis a ela e ainda quererem expulsar os que continuam onde o partido sempre esteve.


Texto Anterior: Editoriais: O DÓLAR FRACO

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: A onda budista
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.