|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Mudar, mas com decência
BUENOS AIRES- Antes de mudar-me espiritualmente para Buenos Aires
de vez, uma última palavra sobre os
mal chamados radicais do PT, agora
oficialmente colocados no "paredón"
da Comissão de Ética.
Ao contrário do que tenho ouvido
de amigos no governo, não se trata de
ser a favor dos radicais. Por uma simples e boa razão: eles não precisam
disso. São "grandinhos", vacinados,
têm representatividade, função pública, auditórios e, circunstancialmente, as atenções da mídia.
Tampouco se trata de condená-los
pela suposição de que só criticam,
"não têm projeto". Bobagem. Projeto
eles têm. É o do PT, pelo menos até o
PT mudar de opinião sem combinar
com os russos, ou seja, com todo
mundo no partido. Afinal, não leva a
assinatura de Luiz Inácio Lula da Silva um texto que diz ser "injusta e
imoral" a cobrança dos inativos, exatamente o ponto que está sendo usado para o fuzilamento dos dissidentes? José Dirceu e José Genoino também não eram contrários a isso?
O que está em jogo nesse caso é a
decência política. Todo partido e todo dirigente partidário têm o direito
de mudar de opinião.
Partidos socialistas europeus deram formidáveis guinadas. Mas,
atenção, sempre o fizeram em reuniões das máximas instâncias partidárias, que ficaram na história. Bad
Godesberg, por exemplo, é referência
até hoje na literatura sobre o SPD
alemão porque foi nessa cidade que o
partido abandonou o marxismo.
O Partido Trabalhista britânico fez
mais ou menos o mesmo recentemente, em um congresso presidido por
Tony Blair, que depois viria a ser primeiro-ministro, ao renegar a cláusula 6 (salvo erro de memória) de sua
Constituição, que pregava a estatização dos meios de produção.
Mas foram sempre decisões precedidas de reflexão e anteriores a uma
dada vitória eleitoral. O que não é sério nem decente é um partido e seus
líderes dormirem contrários à contribuição dos inativos, acordarem no
dia seguinte favoráveis a ela e ainda
quererem expulsar os que continuam
onde o partido sempre esteve.
Texto Anterior: Editoriais: O DÓLAR FRACO
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: A onda budista Índice
|