|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Uma santa para o Brasil
RIO DE JANEIRO - Sempre estranheias romarias dos fiéis de diversas religiões àqueles que, pela santidade de
suas vidas, seus exemplos de caridade
e até mesmo seus milagres, são santificados em vida. É bem verdade que a
maioria dos casos não resiste ao tempo. Mas alguns se perpetuam e chegam a ser oficializados por instituições seculares e respeitáveis, como a
Igreja Católica.
A irmã Dulce foi em vida visitada
duas vezes pelo papa, por todos os
candidatos presidenciais e por presidentes da República que lhe beijaram
as mãos, inclusive o atual. Ela morreu há algum tempo, mas deixou
uma fundação, um rastro de santidade que continua sendo venerado e já
entrou em processo de beatificação
no Vaticano. Os entendidos acreditam que sua canonização vá ser uma
das mais rápidas da história.
O escritor italiano Gaetano Passarelli, um especialista no assunto, lançará hoje e amanhã, na Bahia e em
São Paulo, respectivamente, a biografia de irmã Dulce -em tradução
publicada pela editora Record.
Confesso que, durante anos, por
apatia ou impiedade, eu pouco ligava para essas pessoas santificadas pelo povo, tipo padre Cícero, frei Damião, mãe Menininha do Gantois
etc. Respeito o sentimento popular
provocado por eles, mas não me comovia nem com as suas vidas nem
com os seus milagres.
Irmã Dulce sempre me pareceu diferente. Não a conheci pessoalmente
e, até hoje, nunca precisei nem pedi a
sua proteção. Mas conheço a severidade e o rigor técnico com que a Igreja Católica trata esses casos de beatificação e canonização. Anchieta levou mais de quatro séculos para ser
declarado beato e ainda não foi canonizado.
O livro de Passarelli conta não apenas a vida de Dulce mas o estágio em
que se encontra o seu processo na Cúria Romana. Será certamente, a primeira santa brasileira, uma vez que
a anterior, como o próprio Anchieta,
não nasceu aqui. Mesmo para os que
não acreditam em santos, ela nos merece veneração: dedicou sua vida a
nos melhorar como gente e como nação.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: A onda budista Próximo Texto: Roberto Mangabeira Unger: O precipício Índice
|