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CLÓVIS ROSSI
"The Big One"
SÃO PAULO - Não conheço Regina Maria Prosperi Meyer, arquiteta
e professora do Departamento de
História da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Mas ela
conseguiu descrever, na Revista da
Folha de domingo, um recorrente
pesadelo meu.
Toma a forma do que Regina Maria chamou de "congestionamento
final, um tudo-parado-para-sempre", obviamente nas ruas de São
Paulo.
Essa hipótese me passa pela cabeça faz tempo. Lembro-me de que,
na campanha municipal de 1996,
Duda Mendonça, então marqueteiro de Celso Pitta, espalhou pela cidade outdoors com a frase "Não
deixe São Paulo parar". O bobão
aqui, parado em congestionamentos "semifinais", pensava: se São
Paulo já parou, haverá quem vote
em quem promete impedir o que já
aconteceu? Houve.
Antes de Pitta, com Pitta, com
Paulo Maluf antes dele, com Marta
Suplicy depois, e agora com José
Serra/Gilberto Kassab, todos e cada um deixaram que São Paulo continuasse parando. Portanto as três
correntes que açambarcam a maioria dos votos na capital, e que de novo vão disputá-los, só tornaram
mais próximo o pesadelo meu e de
Regina Maria.
Pior: Sílvio Crespo, do UOL Economia, pôs as mãos em pesquisa do
Citigroup que mostra o custo do
pesadelo mesmo enquanto ele não
é, ainda, o "congestionamento final": "O trânsito gera uma perda de
5% na produtividade do Brasil", diz
o texto. Só a Cidade do México, um
caos ainda maior, tem número pior
nessa matéria.
Sem estarmos em cima de uma
falha geológica, como Los Angeles,
resta-nos aos paulistanos esperar
por "The Big One", o terremoto colossal que os californianos têm certeza que virá. Mas, lá, é culpa da natureza. Aqui, é nossa, mas a gente
acredita nos Dudas Mendonças da
vida. Merecemos o "congestionamento final".
crossi@uol.com.br
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