São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

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CLÓVIS ROSSI

"The Big One"

SÃO PAULO - Não conheço Regina Maria Prosperi Meyer, arquiteta e professora do Departamento de História da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Mas ela conseguiu descrever, na Revista da Folha de domingo, um recorrente pesadelo meu.
Toma a forma do que Regina Maria chamou de "congestionamento final, um tudo-parado-para-sempre", obviamente nas ruas de São Paulo.
Essa hipótese me passa pela cabeça faz tempo. Lembro-me de que, na campanha municipal de 1996, Duda Mendonça, então marqueteiro de Celso Pitta, espalhou pela cidade outdoors com a frase "Não deixe São Paulo parar". O bobão aqui, parado em congestionamentos "semifinais", pensava: se São Paulo já parou, haverá quem vote em quem promete impedir o que já aconteceu? Houve.
Antes de Pitta, com Pitta, com Paulo Maluf antes dele, com Marta Suplicy depois, e agora com José Serra/Gilberto Kassab, todos e cada um deixaram que São Paulo continuasse parando. Portanto as três correntes que açambarcam a maioria dos votos na capital, e que de novo vão disputá-los, só tornaram mais próximo o pesadelo meu e de Regina Maria.
Pior: Sílvio Crespo, do UOL Economia, pôs as mãos em pesquisa do Citigroup que mostra o custo do pesadelo mesmo enquanto ele não é, ainda, o "congestionamento final": "O trânsito gera uma perda de 5% na produtividade do Brasil", diz o texto. Só a Cidade do México, um caos ainda maior, tem número pior nessa matéria.
Sem estarmos em cima de uma falha geológica, como Los Angeles, resta-nos aos paulistanos esperar por "The Big One", o terremoto colossal que os californianos têm certeza que virá. Mas, lá, é culpa da natureza. Aqui, é nossa, mas a gente acredita nos Dudas Mendonças da vida. Merecemos o "congestionamento final".


crossi@uol.com.br

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