São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2001

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A NAU DA POLÊMICA

A ONG holandesa "Women on Waves" (Mulheres sobre as Ondas) vai oferecer a mulheres de países onde o aborto é proibido a possibilidade de realizar gratuitamente o procedimento a bordo de um barco, em águas internacionais. O Brasil é uma das nações que poderão ser visitadas. Trata-se de habilidoso lance de marketing, mas que tem a virtude de suscitar o debate em torno dos direitos reprodutivos da mulher e do aborto.
O primeiro país a ser visitado pela embarcação é a Irlanda, nação de forte tradição católica em que o aborto é proibido mesmo em casos de estupro ou incesto. Pelas leis internacionais, se a cirurgia para a interrupção da gravidez for realizada em águas internacionais, vale a legislação do país que dá bandeira ao navio, ou seja, da Holanda, onde o procedimento é há muito tempo legal.
É claro que a situação jurídica do projeto da ONG holandesa não é assim tão tranquila. Há dúvidas sobre como as coisas se dariam em relação ao direito de família e também na hipótese de acidentes que envolvessem questões de responsabilidade civil. Vale lembrar que países sem lei também podem emprestar bandeira a embarcações. E mais, saindo da Europa, existem polêmicas em torno dos limites de águas territoriais.
Mesmo com esses senões, o debate global sobre a descriminalização do aborto é bem-vindo. A iniciativa da "Women on Waves" levanta ainda a questão do poder econômico. Enquanto mulheres irlandesas (ou brasileiras) ricas podem abortar fora do país quando desejarem, sem infringir nenhuma lei, as mais pobres ficam obrigadas a recorrer a clínicas clandestinas ou métodos duvidosos. O resultado é trágico: infertilidade, graves problemas de saúde e, às vezes, até mesmo a morte.
Segundo a "Women on Waves", cerca de 20 milhões de abortos ilegais e inseguros são praticados anualmente no mundo, causando a morte de 80 mil mulheres. Portanto, nesse assunto, como em tantos outros, há um longo e penoso caminho a percorrer.



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