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CLÓVIS ROSSI
O almoço e o povinho
SÃO PAULO - O leitor Fernando Lourenço M. Rodrigues (de Cascavel, no
Paraná) ficou chocado com o almoço das troupes inimigas na Bahia (ACM
e Geddel), noticiado dias atrás pela
Folha.
O choque não foi com o fato de as
duas turmas terem coincidido no
mesmo restaurante e, não obstante,
terem saído sem combater. Chocou-o
o valor das contas: "As duas mesas
gastaram, cada uma, mais de R$ 500,
uns três salários mínimos", escreve
Fernando.
Conclui o leitor: "A diferença que
importa não é a que existe entre ACM
e Geddel. É a que existe entre eles e o
país" .
Se serve de consolo, Fernando, ou se
vai apenas aumentar o desconforto,
fique sabendo que essa distância é
coisa velha. Um outro leitor, Sérgio
Luiz Simonato (Campinas, SP), está
trabalhando em um texto de Lima
Barreto ("Numa e a Ninfa") do começo do século passado.
O texto reproduz a conversa entre
duas mulheres de políticos, comentando a criação de um novo Estado e
sua nova capital.
Diz, então, dona Celeste: "Não é a
cidade que me aborrece. É aquela
gente. Que gente!
E fechou a fisionomia cheia de desprezo e desgosto.
- D. Celeste, que tem a senhora com
eles?
- Que tenho? Invadem o palácio...
Aqui, ao menos a gente está isolada,
não precisa estar a toda hora em contato com eles; mas lá -não há outro
remédio!
D. Celeste, após uma pausa:
- Os deputados e governadores não
deviam estar em dependência tão estreita desse povinho -não acha você,
Edgarda?
- Creio, mas... Dizem que eles devem
ouvir todo o mundo, para bem representar a vontade do povo, por quem
são eleitos.
- O povo! Eleitos! Nós é que sabemos
como é isso, minha cara Edgarda; nós
sabemos disso..".
Qualquer semelhança não é mera
coincidência.
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