São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2001

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CLÓVIS ROSSI

O almoço e o povinho

SÃO PAULO - O leitor Fernando Lourenço M. Rodrigues (de Cascavel, no Paraná) ficou chocado com o almoço das troupes inimigas na Bahia (ACM e Geddel), noticiado dias atrás pela Folha.
O choque não foi com o fato de as duas turmas terem coincidido no mesmo restaurante e, não obstante, terem saído sem combater. Chocou-o o valor das contas: "As duas mesas gastaram, cada uma, mais de R$ 500, uns três salários mínimos", escreve Fernando.
Conclui o leitor: "A diferença que importa não é a que existe entre ACM e Geddel. É a que existe entre eles e o país" .
Se serve de consolo, Fernando, ou se vai apenas aumentar o desconforto, fique sabendo que essa distância é coisa velha. Um outro leitor, Sérgio Luiz Simonato (Campinas, SP), está trabalhando em um texto de Lima Barreto ("Numa e a Ninfa") do começo do século passado.
O texto reproduz a conversa entre duas mulheres de políticos, comentando a criação de um novo Estado e sua nova capital.
Diz, então, dona Celeste: "Não é a cidade que me aborrece. É aquela gente. Que gente!
E fechou a fisionomia cheia de desprezo e desgosto.
- D. Celeste, que tem a senhora com eles?
- Que tenho? Invadem o palácio... Aqui, ao menos a gente está isolada, não precisa estar a toda hora em contato com eles; mas lá -não há outro remédio!
D. Celeste, após uma pausa:
- Os deputados e governadores não deviam estar em dependência tão estreita desse povinho -não acha você, Edgarda?
- Creio, mas... Dizem que eles devem ouvir todo o mundo, para bem representar a vontade do povo, por quem são eleitos.
- O povo! Eleitos! Nós é que sabemos como é isso, minha cara Edgarda; nós sabemos disso..".
Qualquer semelhança não é mera coincidência.


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