São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2001

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FERNANDO RODRIGUES

O PT e o udenismo de ocasião

BRASÍLIA - Parece não ser possível provar o eventual envolvimento do senador José Eduardo Dutra, do PT, no caso da violação do painel eletrônico do Senado, quando foi cassado Luiz Estevão, há um ano.
Sem prejuízo do benefício da dúvida a favor de Dutra, há uma pilha de evidências demonstrando que ele tinha, no mínimo, meios de inferir que um crime havia sido cometido.
Dutra mantinha uma relação próxima a Antonio Carlos Magalhães. Depois de concluída a cassação de Luiz Estevão, em algum momento, ACM disse ao petista que a senadora Heloísa Helena (PT-AL) havia votado a favor do cassado.
Dutra demonstrou não acreditar. Foi checar. Na versão de ACM, Dutra voltou algum tempo depois para reclamar da senadora petista.
"Ela disse que isso [voto dela a favor de Luiz Estevão" só pode ter acontecido se o Siqueira Campos [senador do Tocantins pelo PFL" votou por ela. O Siqueira conhece a senha da Heloísa", teria dito Dutra a ACM. Enfim, Dutra demonstrou que sabia, tinha certeza, sobre como votara sua colega petista.
Se sabia, por que não denunciou a possível fraude? É uma pergunta difícil de responder.
Agora, é fácil. Dutra apenas nega a história. Pode estar falando a verdade, mas sua versão é incompatível com um fato: a conversa mantida entre o petista e ACM, revelada por ambos a mais de um interlocutor.
Admita-se que o petista teve um súbito déficit de perspicácia. Um apagão mental o impediu de perceber que ACM falava do voto de Heloísa Helena por ter conhecimento da lista secreta. Tudo bem. Ainda assim, o udenismo petista exigiria um discurso denunciando o fato ou a fofoca.
Mas o PT não é udenista sempre. Só se lhe convém. E, quando ACM participou da violação do painel, ainda vigorava a aliança carlo-petista, hoje renegada pela sigla de Lula.


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