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FERNANDO RODRIGUES
O PT e o udenismo de ocasião
BRASÍLIA - Parece não ser possível provar o eventual envolvimento do
senador José Eduardo Dutra, do PT, no caso da violação do painel eletrônico do Senado, quando foi cassado
Luiz Estevão, há um ano.
Sem prejuízo do benefício da dúvida a favor de Dutra, há uma pilha de
evidências demonstrando que ele tinha, no mínimo, meios de inferir que
um crime havia sido cometido.
Dutra mantinha uma relação próxima a Antonio Carlos Magalhães.
Depois de concluída a cassação de
Luiz Estevão, em algum momento,
ACM disse ao petista que a senadora
Heloísa Helena (PT-AL) havia votado a favor do cassado.
Dutra demonstrou não acreditar.
Foi checar. Na versão de ACM, Dutra
voltou algum tempo depois para reclamar da senadora petista.
"Ela disse que isso [voto dela a favor de Luiz Estevão" só pode ter acontecido se o Siqueira Campos [senador
do Tocantins pelo PFL" votou por ela.
O Siqueira conhece a senha da Heloísa", teria dito Dutra a ACM. Enfim,
Dutra demonstrou que sabia, tinha
certeza, sobre como votara sua colega
petista.
Se sabia, por que não denunciou a
possível fraude? É uma pergunta difícil de responder.
Agora, é fácil. Dutra apenas nega a
história. Pode estar falando a verdade, mas sua versão é incompatível
com um fato: a conversa mantida entre o petista e ACM, revelada por ambos a mais de um interlocutor.
Admita-se que o petista teve um súbito déficit de perspicácia. Um apagão mental o impediu de perceber
que ACM falava do voto de Heloísa
Helena por ter conhecimento da lista
secreta. Tudo bem. Ainda assim, o
udenismo petista exigiria um discurso denunciando o fato ou a fofoca.
Mas o PT não é udenista sempre. Só
se lhe convém. E, quando ACM participou da violação do painel, ainda
vigorava a aliança carlo-petista, hoje
renegada pela sigla de Lula.
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