São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Segurança, militares e fatos

SÃO PAULO - Chegar a São Paulo e topar com o Exército nas ruas causa um certo desconforto inicial para quem tem memória. Mas, depois, vem a pergunta inescapável: e se essa presença fosse permanente?
Não vale esconder-se atrás de argumentos escapistas, do tipo "os militares não são treinados para isso" ou "o trauma de 1964".
O debate deveria levar em conta fatos como estes:
1 - As Forças Armadas brasileiras estão ociosas, por falta de inimigo, e assim devem permanecer pelo horizonte previsível, na medida em que ninguém é capaz de imaginar que a Bolívia ou o Paraguai vão declarar guerra ao Brasil ou vice-versa.
Enfrentar país rico, então, está absolutamente fora de questão.
Se o argumento é o de que as Forças Armadas protegem as fronteiras, alguma coisa está errada na ação delas, porque é difícil descobrir fronteiras mais porosas do que as brasileiras. Por elas passam armas, drogas, carros e caminhões roubados, imigrantes clandestinos, o diabo.
2 - A polícia (Federal ou estadual, Civil ou Militar) está despreparada para combater a violência na dimensão que alcançou, além de ter, como admitem até as autoridades, "bandas podres" fortemente contaminadas pelo crime organizado (e até pelo desorganizado).
3 - Corrigir essa anomalia custa dinheiro, que nem o governo central nem os estaduais têm, ainda mais se for cumprida a ameaça do ministro Antonio Palocci de manter por dez anos o escandaloso superávit fiscal vigente.
Mesmo que houvesse dinheiro, levaria tempo, tempo que o país não tem. A questão da segurança pública é óbvia emergência nacional.
Significa que as Forças Armadas devem desempenhar o papel da polícia? Não sei. Mas deve haver especialistas capazes de apresentar propostas factíveis que levem em conta os fatos acima expostos. Fechar os olhos ou assobiar e olhar para o lado não leva a lugar nenhum.



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