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O Brasil excluído da estação espacial
RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO
Com a exclusão, o Brasil perdeu o direito de incluir o seu nome na lista dos países que contribuíram para a construção da base orbital
O BRASIL foi excluído do projeto
da ISS (Estação Espacial Internacional, na sigla em inglês)
porque, após quase dez anos de participação, nunca contribuiu com um
único parafuso para o programa.
Com a exclusão, o Brasil perdeu o
direito de incluir o seu nome na lista
dos países que contribuíram para a
construção da base orbital.
Como um dos 16 (atualmente 15)
parceiros no projeto de construção da
Estação Espacial Internacional, o
Brasil assumiu o compromisso de
construir alguns equipamentos -no
valor de 120 milhões de dólares. Além
do treinamento, a Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, se encarregaria de enviar um astronauta brasileiro ao espaço. Tudo isso sem nenhum custo adicional.
O Brasil, porém, não cumpriu o
contrato pelo qual deveria construir
os equipamentos previstos no acordo.
Enquanto isso, os outros países fizeram as suas contribuições para a
montagem da ISS.
O vôo de Marcos Cesar Pontes
(444º vôo de um astronauta ao espaço) foi, na realidade, uma grande jogada política do governo brasileiro. Ela
não contribuiu em nada para reafirmar nosso programa espacial.
Na realidade, Pontes poderia ir ao
espaço em 2009, de graça -ou seja,
sem o pagamento dos 10 milhões de
dólares-, se o Brasil tivesse cumprido o acordo de construir as tais peças.
Era sem dúvida mais importante
cumprir essa tarefa, porquanto ela
iria gerar um desenvolvimento tecnológico, introduzindo o Brasil no restrito mercado da indústria espacial.
No entanto, o mais importante seria
destinar recursos para tornar uma
realidade o programa espacial brasileiro. Há mais de dez anos, o veículo
lançador -o VLS, Veículo Lançador
de Satélites- está sofrendo uma "sabotagem governamental".
Agora, com a saída do Brasil do projeto da Estação Espacial Internacional, a Missão Centenário passou a
constituir um grande contra-senso.
Aliás, desde o início, a associação do
envio de um astronauta brasileiro ao
espaço com o centenário do vôo do 14
Bis colocou em evidência que o Brasil,
em cem anos, sofreu grande atraso.
Naquela época, fomos os primeiros
a controlar a dirigibilidade dos balões
e levantar vôo com um veículo mais
pesado que o ar, graças à iniciativa de
Santos Dumont. Em 1906, o Brasil foi
o primeiro. No caso do astronauta,
além de não fazê-lo pelos próprios
meios -usamos lançadores de outros
países-, fomos o 36º país a enviar um
homem ao espaço, 45 anos depois do
primeiro.
A Índia e a China, que já têm os seus
lançadores há mais de dois decênios,
começaram os seus programas espaciais na mesma época que o Brasil. A
Índia vem lançando os seus mais diferentes satélites por meios próprios. A
China foi o terceiro país a colocar um
astronauta no espaço pelos seus próprios meios. Não lançou nenhum homem no espaço com o auxílio tecnológico de outro país.
Na verdade, a falta de sensibilidade
dos governos em relação à pesquisa
científica e tecnológica no Brasil
constitui um ato de desrespeito dos
nossos governantes para com o futuro
da nossa pátria.
O importante seria que as autoridades governamentais do Brasil compreendessem que o programa espacial é fundamental para a economia
-o transporte de satélites é um comércio muito lucrativo- e também
para a segurança nacional.
Aliás, fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico,
tendo em vista o seu efeito nas mais
diferentes indústrias, como a de eletrônica, a de informática etc.
O atraso do nosso programa espacial já deveria ter provocado uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o desenvolvimento científico e
tecnológico brasileiro.
Quando a antiga União Soviética
colocou o primeiro satélite artificial
em órbita, houve um questionamento
por parte dos políticos norte-americanos para saber a razão pela qual os
Estados Unidos não tinham conseguido fazê-lo com sucesso antes dos
russos. Lá, até o sistema de ensino foi
questionado. E aqui?
RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO, 72, astrônomo, doutor pela Universidade de Paris, é criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins
(RJ). É autor de mais de 85 livros, dentre os quais "Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007".
www.ronaldomourao.com
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