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ELIANE CANTANHÊDE
Só Freud não explica
BRASÍLIA - Alvos de acusações,
nada, pouco ou muito provadas,
sempre se dizem "vítimas de armação política". E quem denuncia, seja
nada, pouco ou muito sério, é soterrado por uma avalanche de adjetivos desqualificantes. No fim, alvo e
algoz param em patamares bem parecidos.
Quando Pedro Collor denunciou
o governo do irmão Fernando, o então presidente se colocou como vítima da inveja e de uma trama urdida por adversários, sem se defender
das acusações factuais. Caiu Fernando, e Pedro perdeu o apoio da
família e dos amigos e nem por isso
conquistou reconhecimento. Morreu dois anos depois, sem nenhuma
glória.
Quando Nilcéa abriu a boca para
botar os podres do marido Celso
Pitta na Prefeitura de São Paulo, ele
logo se pôs em campo para dizer
que ela era uma maluca, uma despeitada. Ele nunca contestou os fatos denunciados por ela, e Nilcéa foi
desqualificada, no mínimo, como
traidora.
Mais recentemente, Mônica Veloso não suportou ver seus interesses contrariados e acusou o presidente do Senado, Renan Calheiros,
de falcatruas. Destruiu a carreira
política do homem que dizia amar e
aproveitou para capitalizar a própria beleza, sob pesadas críticas.
Agora, Denise Abreu denuncia
Milton Zuanazzi, Dilma Rousseff e
o compadre do presidente da República, Roberto Teixeira, de pressão
para levantar o defunto Varig.
Guardadas as proporções, já que
Zuanazzi e Dilma, por exemplo, não
estão sob nenhuma suspeita de
enriquecimento ilícito, o fato é que
é gente "de dentro" contando histórias -que precisam ser tiradas a
limpo.
Para Lula, isso ocorre apenas
porque Dilma é presidenciável e "só
Freud explica" a atitude de Denise
Abreu -como fizeram com Pedro
Collor, Nilcéa Pitta e Mônica Veloso. Mas, mais importante do que
quem delata, e por que o faz, é o que
delata. São os fatos. A eles, pois.
elianec@uol.com.br
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