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CLÓVIS ROSSI
Quando a polícia é compreendida
SÃO PAULO - O que mais me impressiona nos episódios da USP não
é tanto a ação policial, embora condenável. Não me impressiona pela
quantidade de vezes que vi episódios semelhantes -e sofri na pele a
violência, embora nada tivesse a ver
com o peixe. Estava apenas cobrindo manifestações públicas, no Brasil, na Argentina, no Chile, em Seatle (EUA), na América Central etc.
O que me impressiona é o fato de
que pessoas da melhor qualidade,
como o professor Dalmo Dallari,
aceitem o recurso à polícia para resolver uma pendência interna da
universidade. Não estou nem discutindo os argumentos que Dallari
apresentou em sua entrevista de
ontem à Folha. O fato é que sou de
um tempo em que, em qualquer
confronto polícia x estudantes, os
Dallaris do mundo estariam do lado
dos estudantes.
Impressiona também o fato de
alunos condenarem seus colegas e
aceitarem a ação policial, como ficou claro em duas cartas publicadas, em dias sucessivos, no "Painel
do Leitor". Sou do tempo em que
estudantes eram rebeldes, com ou
sem causa, e portanto mereciam o
apoio integral de seus colegas
-ainda que cego, às vezes.
Até entendo que a rebeldia de hoje se dê em torno de questões mais
pobres (ou estou sendo apenas saudosista? O que a idade permite, mas
o bom senso desaconselha).
O fato é que sempre me encantou
um dos slogans-símbolo de 1968,
aquele que dizia "seja razoável, peça o impossível". Hoje, o impossível
nem passa perto da pauta.
O empobrecimento da agenda
talvez explique a desunião no meio
estudantil. Até acredito que "entre
os 2.000 estudantes que se manifestaram nesta semana estão alguns de nossos melhores alunos",
como escreveu ontem Vladimir Safatle, professor da filosofia.
São poucos, não? E ainda resta
saber onde estavam os outros melhores alunos.
crossi@uol.com.br
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