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DIPLOMA PARA NADA
Quando uma criança pergunta por que tem de ir à escola,
não raro seus pais respondem que
ela precisa aprender uma profissão.
Já se foram os tempos em que a conquista de um diploma era garantia de
emprego por toda a vida, mas segue
vigendo a lógica segundo a qual um
curso superior deve ser capaz de habilitar os formandos para o exercício
profissional. Uma escola que não seja capaz de fazê-lo com a maioria de
seus estudantes solapa as razões de
sua própria existência.
Resultados do mais recente exame
que a seccional paulista da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB) aplica a bacharéis em direito sugerem
que boa parte dos cursos de direito
no Estado de São Paulo poderia ser
fechada sem prejuízos: o índice de
reprovação bateu todos os recordes,
chegando a 87%. Sem a carteira da
ordem, o bacharel não pode advogar. Poderia, é verdade, tornar-se juiz
ou promotor, mas para fazê-lo precisaria ser aprovado em concursos
mais difíceis que as provas da OAB.
Especialistas são unânimes em
apontar a proliferação de cursos de
direito pouco ciosos da qualidade do
ensino que ministram como a principal causa para os resultados desastrosos. Os números falam por si. Em
1993, havia no país 183 cursos de direito. Hoje, eles são 773. Ainda que se
admita que o mais recente teste da
OAB tenha sido especialmente difícil, o índice de reprovação dos inscritos no exame tem transitado nos últimos anos em torno dos 80%.
Não há dúvida de que o fenômeno
está relacionado à proliferação dos
cursos. No exame da ordem aplicado
em abril de 2002, apenas 19% dos
inscritos em São Paulo foram aprovados. Idêntico teste foi aplicado no
mesmo dia a candidatos do Espírito
Santo, onde o índice de sucesso foi
de 37%. A diferença está no fato de
que, no ES, a multiplicação das escolas foi menos intensa que em SP.
Seria ingenuidade acreditar que o
problema da péssima formação esteja restrito ao direito. É até possível
que a situação seja pior em outras
carreiras, como a medicina ou a engenharia, em que basta concluir o
curso para estar legalmente habilitado a exercer a profissão.
Existe uma questão pública em cena quando o Ministério da Educação
reconhece diplomas de médicos que
não sabem medicina ou de engenheiros que desconhecem as razões
que levam prédios a desabar. Há, na
verdade, duas questões públicas. Em
primeiro lugar, o profissional despreparado pode representar uma
ameaça física à sociedade. Em segundo, a existência de cursos que
não ensinam representa uma violação aos direitos de consumidor do
aluno. Ele, afinal, paga suas mensalidades sem obter em troca a contrapartida do conhecimento.
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