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CLÓVIS ROSSI
A discussão errada
SÃO PAULO - Alguém aí acredita que tem alguma chance de vida digna
um país em que o jogo financeiro tem
remuneração quatro vezes superior à
da atividade produtiva?
Está assim, o Brasil. Não o de hoje,
mas o dos últimos muitos anos.
Enquanto isso, a discussão pública
fica centrada na perspectiva de crescimento para 2004. Digamos que seja
maior que os 3,5% que ainda são a
previsão oficial. Digamos que supere
até os 4% que alguns ministros já andam arriscando como palpite. Digamos que chegue até a 5%, um otimismo que ninguém ainda assumiu,
mas que acabará aparecendo cedo
ou tarde, nesse ambiente de torcida
para que desapareça da sala pelo menos esse bode, o do crescimento reduzido ou insuficiente.
Ainda assim, o país não irá a lugar
nenhum enquanto permanecer essa
anomalia imensa entre produção e
ciranda financeira.
Como se já não fosse uma aberração, ainda há o fato de que a atividade que mais ganha dinheiro paga
menos imposto em vez de pagar mais
quando mais ganha.
Como se viu na Folha de ontem, os
bancos pagaram 54% menos de impostos, em valores nominais, no primeiro trimestre deste ano em comparação com idêntico período do ano
passado.
Está tudo errado num país assim.
Mas a única coisa que o presidente
da República consegue produzir de
proposta para uma das anomalias
(os juros cobrados pelos cartões de
crédito quando o usuário saca dinheiro com eles) é que seja substituída pelas cooperativas de crédito.
Parece bom, bonito e barato. Pena
que não tenha a menor viabilidade.
Cooperativa de crédito funciona
quando há quem queira emprestar e
quem queira tomar emprestado. No
mundinho dos cartões de crédito, só
há uma das pontas, a dos que precisam de empréstimo com tanto desespero que aceitam juros escorchantes.
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