São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A discussão errada

SÃO PAULO - Alguém aí acredita que tem alguma chance de vida digna um país em que o jogo financeiro tem remuneração quatro vezes superior à da atividade produtiva?
Está assim, o Brasil. Não o de hoje, mas o dos últimos muitos anos.
Enquanto isso, a discussão pública fica centrada na perspectiva de crescimento para 2004. Digamos que seja maior que os 3,5% que ainda são a previsão oficial. Digamos que supere até os 4% que alguns ministros já andam arriscando como palpite. Digamos que chegue até a 5%, um otimismo que ninguém ainda assumiu, mas que acabará aparecendo cedo ou tarde, nesse ambiente de torcida para que desapareça da sala pelo menos esse bode, o do crescimento reduzido ou insuficiente.
Ainda assim, o país não irá a lugar nenhum enquanto permanecer essa anomalia imensa entre produção e ciranda financeira.
Como se já não fosse uma aberração, ainda há o fato de que a atividade que mais ganha dinheiro paga menos imposto em vez de pagar mais quando mais ganha.
Como se viu na Folha de ontem, os bancos pagaram 54% menos de impostos, em valores nominais, no primeiro trimestre deste ano em comparação com idêntico período do ano passado.
Está tudo errado num país assim. Mas a única coisa que o presidente da República consegue produzir de proposta para uma das anomalias (os juros cobrados pelos cartões de crédito quando o usuário saca dinheiro com eles) é que seja substituída pelas cooperativas de crédito.
Parece bom, bonito e barato. Pena que não tenha a menor viabilidade. Cooperativa de crédito funciona quando há quem queira emprestar e quem queira tomar emprestado. No mundinho dos cartões de crédito, só há uma das pontas, a dos que precisam de empréstimo com tanto desespero que aceitam juros escorchantes.


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