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CARLOS HEITOR CONY
O azar e o destino
RIO DE JANEIRO - Hotéis, hospitais e
até mesmo alguns edifícios comerciais, seguindo a paranóia norte-americana que sataniza com a mesma violência tanto o cigarro como os
estrangeiros suspeitos de atos terroristas, há muito aboliram o 13º andar, e já andei num navio que pulava
da ponte 12 diretamente para a 14
-não sei por que, nos navios, os andares são pontes.
Tudo bem. Mas nem o Pentágono,
nem o Departamento de Estado, nem
o FMI, apesar da hegemonia militar,
política e econômica que exercem no
mundo todo, tiveram coragem de
abolir o dia 13 dos nossos calendários. Sendo de natural nefastos, sobretudo quando caem numa sexta-feira, são mais nefastos quando se
trata de agosto, um mês que tem fama de cruel e de nos trazer ventos e
desgostos.
Tenho amigos que evitam sair de
casa num 13 de agosto, como hoje.
Dois deles têm lá suas razões: ficam
em casa o ano todo, foram assaltados
nas ruas aqui do Rio, um ficou sem a
mulher, outro ficou sem a mão, o
bandido cortou-a para levar um anel
com enorme rubi, era advogado e tinha orgulho daquele símbolo de sua
profissão.
Em sinal de protesto, e não por medo, decidiram nunca mais sair de casa. Contudo houve tempo em que a
escola parecia risonha e franca, podia-se andar nas ruas sem medo de
assaltos. Mesmo assim, já naquele
tempo, no dia 13 de agosto muita
gente não se atrevia, seguro morreu
de velho. E o medo era mais amplo,
universal. Não se temia o bandido,
mas o destino como um todo: o atropelamento, o bueiro aberto, a marquise que caía sobre a cabeça. Ainda
não era tempo da bala perdida, mas
o destino preparava sempre alguma
contra a gente. Foi na madrugada de
um 13 de agosto, de ano distante, que
um guarda florestal quis me levar para a delegacia porque, em boa companhia, estava atentando contra os
bons costumes no parque da Cidade.
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