São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2010

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RUY CASTRO

Obturado

RIO DE JANEIRO - Em 1938, Clark Gable, o astro de cinema mais famoso do mundo, às vésperas de "...E o Vento Levou", e William Faulkner, já célebre desde 1929 por seu romance "O Som e a Fúria", foram apresentados em Hollywood. Gable, magnânimo, perguntou: "Em que o senhor trabalha, sr. Faulkner?". E Faulkner, com certo tédio: "Sou escritor. E o senhor, sr. Gable?". Os dois nunca tinham ouvido falar um do outro.
Desinformação semelhante se deu comigo em 1996, quando caiu o avião com o conjunto Mamonas Assassinas. No dia seguinte, comentei com um amigo: "Só ontem, e apenas porque o avião caiu, é que ouvi falar dos Mamonas Assassinas". E ele, ainda mais obturado: "Pois só estou ouvindo falar agora".
Nos últimos 20 anos, em que andei publicando coisas que tiveram certa aceitação, às vezes sou parado na rua por rapazes e moças que se referem a este ou aquele livro com apreço. Quando se despedem, agradeço e lhes pergunto os nomes. E só então me dou conta de que estava conversando com o líder do principal grupo pop do país ou com o jovem galã da novela das oito -e mesmo assim porque alguém me informa disso com uma providencial cotovelada nas costelas.
Há poucos dias fiquei sabendo da existência de uma cantora chamada Lady Gaga. Sabendo pelos jornais, claro -porque nunca ouvi sua voz, nem a vi em ação. Pelas fotos, parece um derivado de Madonna, de quem também levei alguns anos para tomar conhecimento.
Não é esnobismo ou ser "blasé". Escuto pouco rádio, assisto ainda menos TV e, em matéria de música, esses veículos não tocam nada que me interesse. O fato de até um alienado como eu ter-se dado conta de que existe uma mulher com o improvável nome de Lady Gaga é um atestado da fenomenal popularidade da artista. Um dia, já que é cantora, pretendo ouvir sua voz, se é que ela a usa para cantar.


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