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RUY CASTRO
Obturado
RIO DE JANEIRO - Em 1938, Clark
Gable, o astro de cinema mais famoso do mundo, às vésperas de
"...E o Vento Levou", e William
Faulkner, já célebre desde 1929 por
seu romance "O Som e a Fúria", foram apresentados em Hollywood.
Gable, magnânimo, perguntou:
"Em que o senhor trabalha, sr.
Faulkner?". E Faulkner, com certo
tédio: "Sou escritor. E o senhor, sr.
Gable?". Os dois nunca tinham ouvido falar um do outro.
Desinformação semelhante se
deu comigo em 1996, quando caiu o
avião com o conjunto Mamonas Assassinas. No dia seguinte, comentei
com um amigo: "Só ontem, e apenas porque o avião caiu, é que ouvi
falar dos Mamonas Assassinas". E
ele, ainda mais obturado: "Pois só
estou ouvindo falar agora".
Nos últimos 20 anos, em que andei publicando coisas que tiveram
certa aceitação, às vezes sou parado na rua por rapazes e moças que
se referem a este ou aquele livro
com apreço. Quando se despedem,
agradeço e lhes pergunto os nomes.
E só então me dou conta de que estava conversando com o líder do
principal grupo pop do país ou com
o jovem galã da novela das oito -e
mesmo assim porque alguém me
informa disso com uma providencial cotovelada nas costelas.
Há poucos dias fiquei sabendo
da existência de uma cantora chamada Lady Gaga. Sabendo pelos
jornais, claro -porque nunca ouvi
sua voz, nem a vi em ação. Pelas fotos, parece um derivado de Madonna, de quem também levei alguns
anos para tomar conhecimento.
Não é esnobismo ou ser "blasé".
Escuto pouco rádio, assisto ainda
menos TV e, em matéria de música,
esses veículos não tocam nada que
me interesse. O fato de até um alienado como eu ter-se dado conta de
que existe uma mulher com o improvável nome de Lady Gaga é um
atestado da fenomenal popularidade da artista. Um dia, já que é cantora, pretendo ouvir sua voz, se é
que ela a usa para cantar.
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