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FERNANDO RODRIGUES
Valores em falta
BRASÍLIA - É difícil saber o que é
pior no episódio do fim de semana
prolongado de 47 juízes num hotel
de luxo em Comandatuba, tudo pago pela Febraban. Há o fato em si,
desgastante para a imagem do Judiciário. Mas há também a explicação
dos magistrados, que nada enxergam de errado.
Um dos juízes alega ter feito um
"sacrifício". Foi cumprir o "preceito
constitucional" de manter interlocução do Judiciário com a sociedade. Pago pelos bancos.
De cada 100 ações analisadas pelo
Superior Tribunal de Justiça, cerca
de 30 têm relação com os bancos.
Os associados da Febraban são os
maiores clientes da Justiça.
Num país com normalidade democrática e valores assentados, a
sociedade tenderia a repelir tal relação. No Brasil, não.
Essa atitude leniente com os modos e os costumes é muito disseminada nas instituições nacionais.
Questionados, os protagonistas
reagem como se estivessem sendo
agredidos quando o assunto é apresentado em público.
Tome-se também o caso da Petrobras. A estatal tem feito muito
mais ações sociais em prefeituras
aliadas a Lula. As de oposição ficam
para o fim da fila.
Ontem, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, irritou-se com a reportagem da Folha que
mostrava a divisão partidária dos
gastos da empresa. "Eu acho que é
um escândalo a Folha insinuar que
o critério da distribuição de recursos da Petrobras seria um critério
partidário".
Ora, não houve insinuação. Foram apresentados números. Mas o
doutor resolveu ficar indignado.
No fundo, são poucos os agentes
públicos acostumados a conviver
com o contraditório. Admitir um
erro e corrigir uma conduta é raro.
Os valores são frágeis.
Pior: nenhum candidato a presidente trata desse tema de maneira
correta.
frodriguesbsb@uol.com.br
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