São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2006

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SERGIO COSTA

Consumação máxima

RIO DE JANEIRO - Quatro dos cinco jovens mortos em acidente na semana passada no Rio haviam bebido muito na boate. Exame mostrou que o motorista, de 18 anos, tinha 1,39g de álcool por litro de sangue. Mais do que o dobro do limite fixado pelo Código de Trânsito.
A tragédia comoveu a cidade ao expor, com corpos à beira da Lagoa, o maior pesadelo dos pais: a integridade dos filhos que saem para a balada numa cidade onde a violência, seja do crime, seja do trânsito, está sempre armando o bote.
Pode parecer conversa de pai conservador. Talvez até seja mesmo. Quem ama seus filhos deseja conservá-los vivos e saudáveis. Mas, como da porta de casa para fora nenhum pai jamais vai saber exatamente o que fazem suas crias -quem esteve do outro lado da porta há de concordar-, esse caso emblemático envolve um aspecto que precisa ser mais bem discutido: o que têm na cabeça - além de lucro- empresários que estabelecem R$ 70 de consumação mínima e permitem a entrada de menores em suas boates?
O que têm na cabeça garotos e garotas de 16, 17, 18, 19 anos a gente sabe. Por isso mesmo é um crime induzi-los a consumir R$ 70 em álcool durante três, quatro horas de farra. A molecada faz valer uma relação "custo-malefício", consome cada centavo de sua cartela e ainda o que sobrar nas dos colegas. Misturam cerveja, vodca e energéticos.
Qual a diferença entre comerciantes que levam jovens a abusar de drogas legais e traficantes? Os primeiros pagam impostos, poderão justificar -mas não dá para garantir. As duas categorias só obedecem à lei da oferta e da procura. Pais podem fazer sua parte com educação e evitando patrocinar riscos aos seus filhos, mas regulamentação e fiscalização dessas "bocas-de-álcool" para jovens seriam muito bem-vindas. Mas interessa?


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