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SERGIO COSTA
Consumação máxima
RIO DE JANEIRO - Quatro dos
cinco jovens mortos em acidente na
semana passada no Rio haviam bebido muito na boate. Exame mostrou que o motorista, de 18 anos, tinha 1,39g de álcool por litro de sangue. Mais do que o dobro do limite
fixado pelo Código de Trânsito.
A tragédia comoveu a cidade ao
expor, com corpos à beira da Lagoa,
o maior pesadelo dos pais: a integridade dos filhos que saem para a balada numa cidade onde a violência,
seja do crime, seja do trânsito, está
sempre armando o bote.
Pode parecer conversa de pai
conservador. Talvez até seja mesmo. Quem ama seus filhos deseja
conservá-los vivos e saudáveis.
Mas, como da porta de casa para fora nenhum pai jamais vai saber exatamente o que fazem suas crias
-quem esteve do outro lado da porta há de concordar-, esse caso emblemático envolve um aspecto que
precisa ser mais bem discutido: o
que têm na cabeça - além de lucro- empresários que estabelecem
R$ 70 de consumação mínima e
permitem a entrada de menores em
suas boates?
O que têm na cabeça garotos e garotas de 16, 17, 18, 19 anos a gente sabe. Por isso mesmo é um crime induzi-los a consumir R$ 70 em álcool durante três, quatro horas de
farra. A molecada faz valer uma relação "custo-malefício", consome
cada centavo de sua cartela e ainda
o que sobrar nas dos colegas. Misturam cerveja, vodca e energéticos.
Qual a diferença entre comerciantes que levam jovens a abusar
de drogas legais e traficantes? Os
primeiros pagam impostos, poderão justificar -mas não dá para garantir. As duas categorias só obedecem à lei da oferta e da procura. Pais
podem fazer sua parte com educação e evitando patrocinar riscos aos
seus filhos, mas regulamentação e
fiscalização dessas "bocas-de-álcool" para jovens seriam muito
bem-vindas. Mas interessa?
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