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CLÓVIS ROSSI
De fatos e argumentos
SÃO PAULO - Ouvi desse sábio
chamado José Mindlin uma frase
que define à perfeição uma fatia da
humanidade, em especial na intelectualidade: "Para muitos, contra
argumentos não há fatos".
Aplica-se agora a um punhado
enorme de economistas, todos os
que previam, até anteontem, que o
crescimento da economia brasileira se desaceleraria em 2008, na
comparação com o crescimento de
5,4% de 2007. Até o governo havia
comprado esse tipo de análise.
Só agora, depois de divulgado o
PIB do segundo semestre e quando
o terceiro trimestre já está chegando ao fim, é que o ministro Guido
Mantega elevou de 5% para 5,5% a
previsão de crescimento.
O que me assusta é que, um mês e
uma semana antes de Mantega calibrar sua previsão, eu, que não entendo nada de economia, já havia
escrito neste espaço, exatamente a
3 de agosto:
"É difícil entender o relativo pessimismo da previsão [de desaceleração de crescimento], quando vários fatores reais (e não previsões)
levam a supor que daria para repetir, basicamente, o resultado de
2007. A saber: há segurança quanto
ao emprego e, portanto, com a renda; há confiança em tomar créditos.
Foram esses dois fatores (renda e
crédito) que ajudaram muitíssimo
no crescimento de 2007".
Se não tivesse um agudíssimo
senso de autocrítica, poderia me
achar um gênio da raça. Nada disso.
Apenas faço parte daquele grupo
(minoritário?) para os quais contra
fatos não há argumentos. Os fatos
que citei no texto relembrado não
foram descobertos por mim em um
notável esforço de reportagem. Estavam disponíveis em todos os jornais da praça, na internet, até mesmo na TV, mais econômica ao lidar
com esses assuntos.
Como é possível que economistas, consultorias, até os economistas do governo, como Mantega, se
animem a chutar previsões sem
olhar para os fatos?
crossi@uol.com.br
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