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CIÊNCIA E RELIGIÃO
A Igreja Católica obviamente tem, como qualquer instituição ou indivíduo, o direito de manter
opiniões sobre o assunto que bem
desejar. Pode-se, certamente, lamentar a posição conservadora de Roma
ao condenar com veemência o uso de
preservativos, principalmente quando se considera a pandemia de Aids,
mas é preciso reconhecer que, até este ponto, os padres estão exercendo
sua liberdade de expressão.
É verdade que, principalmente nos
países de Terceiro Mundo, onde a
igreja faz a linha de frente dos serviços de saúde, a condenação aos preservativos tem produzido resultados
catastróficos em termos de prevenção à Aids. Mas não se pode tentar
impor à Igreja Católica que renuncie
a seus princípios em nome de um
ideal como saúde pública. Ainda que
nobre, ela não constitui o centro de
preocupações do clero. No mais,
ninguém é tecnicamente obrigado a
seguir as orientações do Vaticano.
A situação começa a mudar de figura quando se constata, como o fez a
BBC britânica, que a Igreja Católica
vem já há algum tempo dizendo, ainda que sem alarde, que preservativos
não constituem uma proteção efetiva
contra a Aids. Essa é uma afirmação
errônea, que não encontra respaldo
em nenhum trabalho científico sério. Ao contrário, toda a literatura
aponta para o fato de que a camisinha evita, sim, a Aids.
Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde, que, diferentemente do Vaticano, está habilitada a falar com conhecimento de
causa sobre temas de saúde, preservativos são eficientes para evitar a
propagação da Aids em 95% das relações. Os 5% de falhas são devidos à
má colocação e a rupturas, que nada
têm a ver com a fantasiosa tese de
Roma de que o vírus atravessa a
membrana de látex.
A Igreja Católica tem todo o direito
de pregar o que melhor lhe parecer
para os seus fiéis, bem como de esclarecer suas posições para a sociedade. Não pode, porém, divulgar como científicos fatos sabidamente incorretos e que podem pôr em risco
vidas de católicos e não-católicos.
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