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São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

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CIÊNCIA E RELIGIÃO

A Igreja Católica obviamente tem, como qualquer instituição ou indivíduo, o direito de manter opiniões sobre o assunto que bem desejar. Pode-se, certamente, lamentar a posição conservadora de Roma ao condenar com veemência o uso de preservativos, principalmente quando se considera a pandemia de Aids, mas é preciso reconhecer que, até este ponto, os padres estão exercendo sua liberdade de expressão.
É verdade que, principalmente nos países de Terceiro Mundo, onde a igreja faz a linha de frente dos serviços de saúde, a condenação aos preservativos tem produzido resultados catastróficos em termos de prevenção à Aids. Mas não se pode tentar impor à Igreja Católica que renuncie a seus princípios em nome de um ideal como saúde pública. Ainda que nobre, ela não constitui o centro de preocupações do clero. No mais, ninguém é tecnicamente obrigado a seguir as orientações do Vaticano.
A situação começa a mudar de figura quando se constata, como o fez a BBC britânica, que a Igreja Católica vem já há algum tempo dizendo, ainda que sem alarde, que preservativos não constituem uma proteção efetiva contra a Aids. Essa é uma afirmação errônea, que não encontra respaldo em nenhum trabalho científico sério. Ao contrário, toda a literatura aponta para o fato de que a camisinha evita, sim, a Aids.
Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde, que, diferentemente do Vaticano, está habilitada a falar com conhecimento de causa sobre temas de saúde, preservativos são eficientes para evitar a propagação da Aids em 95% das relações. Os 5% de falhas são devidos à má colocação e a rupturas, que nada têm a ver com a fantasiosa tese de Roma de que o vírus atravessa a membrana de látex.
A Igreja Católica tem todo o direito de pregar o que melhor lhe parecer para os seus fiéis, bem como de esclarecer suas posições para a sociedade. Não pode, porém, divulgar como científicos fatos sabidamente incorretos e que podem pôr em risco vidas de católicos e não-católicos.



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