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São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

O conservador progride

SÃO PAULO - O que é um conservador? Há tantos que não parece muito difícil descobrir um. Mas se alguém perguntar "você viu um conservador por aí?" pouca gente de pronto saberá para onde apontar.
O ogre reacionário, o fascista de carteirinha, o banqueiro golpista, o latifundiário poderoso e quem diga que a questão social é caso de polícia não existem mais ou não têm lá relevância. Petistas velhos, o PSTU e babaístas em geral (cortesia do deputado João Babá) vão dizer que reacionário é quem entrega o país ao FMI e bobices do tipo.
Mas que é o conservador moderno? É insidioso, porta-voz da ideologia do tempo, "funcionário do capital", "nova classe", como diria o sociólogo Chico de Oliveira -intelectuais banqueiros e consultores, altos burocratas acadêmicos, até sindicalistas.
De fala mansa, são useiros do discursinho social de otimismo sóbrio. Muitos são tecnocratas cosmopolitas, algo ignorantes de tudo o que não seja de sua especialidade. Sabem inglês, mas não o português: recheiam sua linguagem já medonha de ridículos falsos cognatos. Acham-se elegantes, mas em geral são só tucanos ou tucanistas, tanto faz o partido.
Assim como nos primeiros dias quentes de primavera há muito cupim e tanajura, o conservador pulula em dias de euforia no mercado e de divulgação de estatísticas sociais. São vezeiros em ressaltar como o país progride, como a última década não foi perdida etc. Nas semanas passadas, fartas de dados sociais, revoaram tanajuras tecnocráticas.
Um terço das casas do Brasil vive com até R$ 480 por mês. Um terço não tem esgoto. A média de anos de estudo subiu só de 4,3 para 6,2 anos em dez anos. Se não fossem a previdência rural e as bolsas-esmola, a desigualdade teria aumentado, pois a economia concentra renda (ainda assim, a farra de impostos de FHC pagou mais a farra da dívida pública que minorou a miséria). Mata-se e tortura-se -em geral, os pobres. O povo compra mais TV, celular? Ficaram mais baratos, como em todo o lugar. O país mudou um nada.
Mas o conservador progride.



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