São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Editoriais

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A relevância do Nobel

O NOBEL é um prêmio que, por seu prestígio, está fadado à controvérsia. Neste ano, os comitês que premiam pesquisadores elegeram mescla equilibrada de contribuições práticas e teóricas relevantes.
Ninguém discutirá que o alemão Harald zur Hausen merece a sua metade do prêmio de Medicina. Contrariando o pensamento dominante na década de 1970, ele foi capaz de provar que o papilomavírus humano (HPV) estava na raiz do câncer cervical (no colo do útero, o segundo mais mortal tumor entre mulheres). Hoje existem vacinas para combater o mal que ronda 400 milhões de infectadas por ano.
A segunda metade foi para os franceses Françoise Barré-Sinoussi e Luc Montagnier, pelo isolamento do vírus da Aids.
Tampouco é o caso, aqui, de questionar a importância do trabalho. Conhecer o agente era condição prévia para desenvolver testes diagnósticos precisos e estratégias terapêuticas, como os coquetéis de anti-retrovirais que hoje prolongam e melhoram a sobrevida dos soropositivos.
A láurea de Química também contemplou trabalhos com enorme repercussão prática na pesquisa. Osamu Shimomura, Martin Chalfie e Roger Tsien, todos atuantes nos Estados Unidos, foram premiados por seus estudos com a proteína fluorescente verde (GFP, em inglês).
Hoje quase todos os laboratórios biológicos empregam esse marcador versátil. Ele permite visualizar células e até moléculas individualmente, além de acompanhar seu deslocamento ao longo de processos vitais. A técnica já foi por isso comparada com a invenção do microscópio.
O Nobel de Física, por sua vez, pendeu para o pólo oposto da pesquisa -a teoria. Os escolhidos foram os japoneses Yoichiro Nambu (naturalizado americano), Makoto Kobayashi e Toshihide Maskawa, pela descoberta do mecanismo da quebra de simetria em física subatômica.
Graças ao trio foi possível começar a explicar o mistério da raridade da antimatéria em nosso universo. Eles também puseram seus colegas na trilha de três novos tipos de quarks, o que contribuiu para completar, ou quase, o quadro de partículas fundamentais que compõem o chamado modelo padrão da física. Falta só o bóson de Higgs, que há poucas semanas começou a ser perseguido no túnel de 27 km do bilionário acelerador de partículas LHC, na Europa.


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