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Editoriais
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A relevância do Nobel
O
NOBEL é um prêmio que,
por seu prestígio, está fadado à controvérsia. Neste ano, os comitês que premiam
pesquisadores elegeram mescla
equilibrada de contribuições
práticas e teóricas relevantes.
Ninguém discutirá que o alemão Harald zur Hausen merece
a sua metade do prêmio de Medicina. Contrariando o pensamento dominante na década de 1970,
ele foi capaz de provar que o papilomavírus humano (HPV) estava na raiz do câncer cervical
(no colo do útero, o segundo
mais mortal tumor entre mulheres). Hoje existem vacinas para
combater o mal que ronda 400
milhões de infectadas por ano.
A segunda metade foi para os
franceses Françoise Barré-Sinoussi e Luc Montagnier, pelo
isolamento do vírus da Aids.
Tampouco é o caso, aqui, de
questionar a importância do trabalho. Conhecer o agente era
condição prévia para desenvolver testes diagnósticos precisos e
estratégias terapêuticas, como
os coquetéis de anti-retrovirais
que hoje prolongam e melhoram
a sobrevida dos soropositivos.
A láurea de Química também
contemplou trabalhos com
enorme repercussão prática na
pesquisa. Osamu Shimomura,
Martin Chalfie e Roger Tsien, todos atuantes nos Estados Unidos, foram premiados por seus
estudos com a proteína fluorescente verde (GFP, em inglês).
Hoje quase todos os laboratórios biológicos empregam esse
marcador versátil. Ele permite
visualizar células e até moléculas
individualmente, além de acompanhar seu deslocamento ao longo de processos vitais. A técnica
já foi por isso comparada com a
invenção do microscópio.
O Nobel de Física, por sua vez,
pendeu para o pólo oposto da
pesquisa -a teoria. Os escolhidos foram os japoneses Yoichiro
Nambu (naturalizado americano), Makoto Kobayashi e Toshihide Maskawa, pela descoberta
do mecanismo da quebra de simetria em física subatômica.
Graças ao trio foi possível começar a explicar o mistério da
raridade da antimatéria em nosso universo. Eles também puseram seus colegas na trilha de três
novos tipos de quarks, o que contribuiu para completar, ou quase, o quadro de partículas fundamentais que compõem o chamado modelo padrão da física. Falta
só o bóson de Higgs, que há poucas semanas começou a ser perseguido no túnel de 27 km do bilionário acelerador de partículas
LHC, na Europa.
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