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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Sob nova direção
SÃO PAULO - A vitória surpreendente de Kassab no 1º turno e a vantagem inicial de 17 pontos sobre
Marta na disputa do 2º turno anunciam um desfecho melancólico para
a candidatura petista em São Paulo.
A não ser entre adeptos do ocultismo, ninguém mais discute se Marta
pode vencer, e sim se conseguirá
evitar o pior: sair dessa menor do
que entrou. Há dúvidas a respeito.
A "classe média" que a petista
pretendia reconquistar lhe virou
ainda mais as costas. Tome-se a rica
região de Pinheiros: no 1º turno de
2000, Marta teve ali 31,7% dos votos; em 2004, 24,1%; agora, 13,8%.
Marta também encolheu na zona
leste, antigo reduto malufista onde
Kassab se projeta com força. Mais
ainda: da Capela do Socorro, na zona sul, a Itaquera, na leste, a petista
foi desidratada em todo o primeiro
anel periférico da cidade. Onde
cresceu foi nos confins, na periferia
da periferia, em regiões de carência
extrema como a Brasilândia (zona
norte), o Grajaú (sul) e Guaianases
(leste). Lá, mas só lá, o cinturão vermelho ainda enlaça o Kassabinho.
O mapa eleitoral produz a sensação de que Marta está sendo expulsa da cidade. Numa campanha tão
rica quanto fria (a cara de São Paulo), o descaso e as reservas do eleitorado petista em relação à candidata abriram caminho para a vingança da mentalidade de província.
A vitória do DEM, tendo o PMDB
de Quércia como vice e aliados como o PTB, sela a reorganização da
direita na cidade após o declínio final do malufismo. "Sob nova direção", e salpicada pela granola alternativa do PPS de Soninha, essa direita recomposta tem em Serra o
seu fiador e no PSDB o anzol que
fisga parte da opinião progressista.
Eleito, Kassab poderá ficar seis
anos no comando de São Paulo. Seria ingênuo demais supor que seguirá tutelado pelo patrão tucano
indefinidamente. O futuro, diz o
povo, a Deus pertence. Mas em São
Paulo parece que ele é do demo.
A propaganda petista que questiona a vida privada de Kassab é
uma apelação abjeta e obscurantista. Entre a eleição e a compostura,
seria melhor optar pela segunda.
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